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Revista GC - Ed.57 - Março 2015
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Entrevista

Construção busca novos caminhos

Entrevista com Carlos Eduardo Aurichio, diretor titular do Departamento da Indústria da Construção da FIESP

Deconcic, da Fiesp, prevê dificuldades para este ano e defende mudanças na legislação e continuidade do programa de concessões para manter o setor em alta.

Em momento emblemático para a indústria, o setor da construção enfrenta dilemas como o avanço das importações, o aumento contínuo dos custos de produção e a retração dos investimentos.  Para os empresários do setor, 2015 terá como desafio abreviar os efeitos da crise e produzir iniciativas para manter o padrão de atividades que acalentou o mercado nos idos dos anos 2010. Para isso, a Fiesp, a Federação das Indústrias de São Paulo, prepara, por meio do Departamento da Indústria da Construção (Deconcic), o seu tradicional lançamento do Construbusiness, documento em que traça um diagnóstico dos gargalos para o crescimento do país e apresenta propostas que ajudem a alavancar os investimentos empresariais e o setor da construção. Nesta entrevista, Carlos Eduardo Aurichio, diretor do departamento da Indústria da Construção, traça um painel não só dos problemas, mas de soluções que possam ser boas ao país e ao setor da construção como um todo.  A redução da burocracia associada ao lançamento das concessões são algumas das propostas da entidade, e as quais ele aborda nesta entrevista.

Grandes Construções - Como o Sr. vê a situação atual do setor da construção brasileira, diante do cenário econômico?

Carlos Eduardo Aurichio - A despeito da resposta positiva do Brasil à crise financeira internacional de 2008, inclusive pelo fomento ao investimento em construção e os incentivos tributários à produção e ao consumo, a indústria brasileira como um todo entrou numa rota perigosa de 2012 em diante. O setor da construção, que também enfrenta o avanço das importações e o aumento contínuo dos custos de produção, tem sofrido seguidas retrações nos últimos anos. Este período coincide, no entanto, com o final de um ciclo de obras que teve início em 2007, marcado pelo início de grandes investimentos em desenvolvimento urbano e infraestrutura pautado pelo Programa de Aceleração do Crescimento, do Programa Minha Casa, Minha Vida e pelos investimentos para a realização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. Para o curto e médio prazos, o setor


Deconcic, da Fiesp, prevê dificuldades para este ano e defende mudanças na legislação e continuidade do programa de concessões para manter o setor em alta.

Em momento emblemático para a indústria, o setor da construção enfrenta dilemas como o avanço das importações, o aumento contínuo dos custos de produção e a retração dos investimentos.  Para os empresários do setor, 2015 terá como desafio abreviar os efeitos da crise e produzir iniciativas para manter o padrão de atividades que acalentou o mercado nos idos dos anos 2010. Para isso, a Fiesp, a Federação das Indústrias de São Paulo, prepara, por meio do Departamento da Indústria da Construção (Deconcic), o seu tradicional lançamento do Construbusiness, documento em que traça um diagnóstico dos gargalos para o crescimento do país e apresenta propostas que ajudem a alavancar os investimentos empresariais e o setor da construção. Nesta entrevista, Carlos Eduardo Aurichio, diretor do departamento da Indústria da Construção, traça um painel não só dos problemas, mas de soluções que possam ser boas ao país e ao setor da construção como um todo.  A redução da burocracia associada ao lançamento das concessões são algumas das propostas da entidade, e as quais ele aborda nesta entrevista.

Grandes Construções - Como o Sr. vê a situação atual do setor da construção brasileira, diante do cenário econômico?

Carlos Eduardo Aurichio - A despeito da resposta positiva do Brasil à crise financeira internacional de 2008, inclusive pelo fomento ao investimento em construção e os incentivos tributários à produção e ao consumo, a indústria brasileira como um todo entrou numa rota perigosa de 2012 em diante. O setor da construção, que também enfrenta o avanço das importações e o aumento contínuo dos custos de produção, tem sofrido seguidas retrações nos últimos anos. Este período coincide, no entanto, com o final de um ciclo de obras que teve início em 2007, marcado pelo início de grandes investimentos em desenvolvimento urbano e infraestrutura pautado pelo Programa de Aceleração do Crescimento, do Programa Minha Casa, Minha Vida e pelos investimentos para a realização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. Para o curto e médio prazos, o setor está diante de um cenário conservador, com retração do crescimento, que só poderá voltar aos patamares anteriores a partir da manutenção e do aumento dos investimentos em obras no país, com maior participação do setor privado.

GC - Quais são os principais pontos no âmbito da economia que interessam ao setor?

Carlos Eduardo Aurichio - Mais do que nunca, é pauta prioritária ao setor a simplificação do sistema tributário e trabalhista, a redução significativa dos entraves burocráticos e o lançamento sistemático dos programas de concessões previstos, com o fornecimento de garantias atrativas às empresas participantes.  O setor também necessita de fontes alternativas de financiamento e crédito, e de regularidade nos pagamentos às empresas, visto que as dificuldades de caixa afetam não somente as empresas grandes, mas também as pequenas e médias. Os juros também são um ponto crítico, pois juros altos encarecem o capital de giro das empresas e desestimulam projetos de investimento, além de reduzir a competitividade da indústria e impedir o aumento da capacidade produtiva. Na mesma linha, o câmbio também deve manter-se em patamares que permitam maiores condições de competição com empresas internacionais.

GC - Em medidas gerais, que ações poderiam ser executadas para oxigenar o setor?

Carlos Eduardo Aurichio - Para garantir uma trajetória de crescimento sustentado será fundamental ampliar os investimentos em obras de desenvolvimento urbano e desenvolvimento da infraestrutura econômica. Para tal, é necessário estimular maior participação da iniciativa privada nessas obras, a partir de maiores garantias e da diminuição de entraves como a desburocratização dos procedimentos de licenciamento de obra e a facilidade de acesso ao crédito.

GC - O desempenho da indústria da construção interfere em outras indústrias?

Carlos Eduardo Aurichio - A indústria da construção é historicamente um setor representativo da economia brasileira, e os elos de sua cadeia produtiva exercem nela um amplo impacto. Os valores investidos nas obras se transformaram em salários, impostos e lucros das construtoras, em compras de materiais de construção e em contratação de serviços, gerando efeitos diretos e indiretos. De um lado, impacta fornecedores diretos como a siderurgia, por exemplo, já que a construção é um grande consumidor de aço. Do outro lado, afeta os setores consumidores de obras, como logística, mobilidade urbana, habitação e agronegócio. Dessa forma, o efeito dessas obras se expande sobre o bem estar social e a competitividade do país. Esta grande integração do setor de construção na economia resulta na seguinte relação: a cada R$ 1,00 produzido na construção, são gerados R$ 1,88 na economia como um todo, um valor 88% maior que o inicial. Este multiplicador é considerável, e explica a grande geração de empregos encadeada pelo setor: cada R$ 1 milhão produzidos na construção gera 70 empregos na economia como um todo, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

GC - Há perspectivas de alterações nos financiamentos imobiliários.  O setor já vem sentindo certa pressão inflacionária e queda? Isso tende a piorar?

Carlos Eduardo Aurichio - O financiamento imobiliário teve uma expansão pronunciada no Brasil nos últimos anos. O estoque de créditos imobiliários habitacionais está atualmente na faixa de 9,3% do PIB, muito superior aos 1,75% do PIB em 2007. Esta evolução foi devida à expansão da captação das cadernetas de poupança e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). No entanto, tendo em vista o baixo ritmo de atividade do mercado imobiliário em 2014, é preocupante o recente aumento de juros nos financiamentos imobiliários da Caixa Econômica Federal, que responde hoje por cerca de dois terços das operações de crédito imobiliário no País. Este novo cenário diminui o potencial de compra das famílias, ao trazer impactos significativos no valor das parcelas. Mesmo com o compromisso do governo em não alterar os juros do Programa Minha Casa Minha Vida e dos financiamentos contratados com recursos do FGTS, é esperado pelos empresários do setor que o governo crie incentivos que reequilibrem o cenário negativo da alta dos juros – que pode frear ainda mais o crescimento do setor nos próximos anos.

GC - No âmbito da burocracia, o que poderia ser feito para estimular as empresas?

Carlos Eduardo Aurichio - O combate à desburocratização é uma das principais bandeiras do Deconcic. O departamento, por meio de seus estudos e grupos de trabalho, vem propondo diversas medidas que poderiam ser adotadas nesse sentido. Um grande entrave burocrático é o licenciamento de obras, um processo, em geral, lento e que deve ser feito junto às prefeituras, com especificidades e rituais próprios. É preciso reduzir as dificuldades e custos do setor privado ao lidar com o setor público e legislação, por meio da informatização de todos os processos e eliminar etapas desnecessárias, instituindo um Programa Nacional de Informatização desses processos. O chamado Projeto Silo – Sistema Integrado de Licenciamento de Obras, é uma ação proposta pelo Deconcic dentro do tema, que se encontra em fase de implantação em Atibaia (SP). O Silo é um sistema informatizado para a aprovação de obras que expede as autorizações e documentações necessárias para a demolição, construção, reforma e habite-se de edificações em prazos reduzidos. Outra demanda histórica é a desburocratização do registro imobiliário. Esta questão obteve avanços positivos com a publicação da Medida Provisória nº 656/2014, que contou com importante articulação das entidades do setor, instituindo a concentração dos atos na matrícula do imóvel com o objetivo de dar maior segurança aos negócios imobiliários.

GC - O setor tem sentido as pressões da falta de mão de obra qualificada. Porque o setor não consegue ampliar os sistemas industrializados em canteiros?

Carlos Eduardo Aurichio - Os sistemas construtivos industrializados estão fortemente ligados com a questão da mão de obra qualificada, visto que sua força de trabalho requer profissionais especializados. Junto ao setor de máquinas e equipamentos, a construção industrializada tem grande potencial de elevar a produtividade do trabalho nas obras, o que torna estratégica a qualificação nessas áreas. Porém, além da falta de mão de obra qualificada, a adoção de métodos construtivos industrializados também encontra barreiras tributárias elevadas, devido à falta de isonomia tributária em relação à construção convencional.

Esta situação, além de diminuir as vantagens econômicas potenciais desses métodos gera um entrave ao próprio crescimento do setor, visto que os processos produtivos industrializados podem ampliar a escala de obras, construindo com mais rapidez, segurança e eficiência. Além dos pontos destacados, existem outras barreiras às mudanças tecnológicas nos empreendimentos, como a barreira cultural pelo desconhecimento de suas vantagens, a falta do uso de métodos específicos de aferição do andamento da obra e de avaliações parciais de benefícios da construção industrializada.

GC - Quais foram os avanços alcançados com o programa Minha Casa Minha Vida e as obras de infraestrutura, neste último período?

Carlos Eduardo Aurichio - O aumento da demanda por moradias e por obras de infraestrutura, fomentado pelo crescimento dos recursos para o seu financiamento, possibilitou o crescimento de todos os elos da cadeia produtiva da construção nos últimos anos. A criação de programas subsidiados trouxe maior acesso à moradia para famílias de baixa renda, e esse volume de investimentos já resultou em retração do déficit habitacional no país. O Programa Minha Casa, Minha Vida foi um importante avanço, mas para contribuir mais para a redução do déficit habitacional, é preciso que este se torne um programa permanente, proporcionando mais garantias e previsibilidade ao setor produtivo. Na infraestrutura, o papel desempenhado nos últimos anos pelo Programa de Aceleração do Crescimento e demais programas de investimentos afetam positivamente a oferta de serviços desse tipo no país. Da mesma forma, esses investimentos precisam ser ampliados e ajustados, de modo a proporcionar maior atratividade e garantias à iniciativa privada. Os recentes atrasos no pagamento das obras dos programas em andamento têm impactado negativamente o caixa das construtoras e das empresas fornecedoras de materiais. As consequências têm sido o aumento de custos financeiros das construtoras, dispensa de trabalhadores e prejuízos para a população, com o atraso ou paralisação das obras.

GC - O governo tem como lema a educação. Como ela interfere para o avanço da construção civil e o que pode ser feito nesse sentido ainda?

Carlos Eduardo Aurichio - A falta de mão de obra qualificada é particularmente grave porque a evolução da produtividade do trabalho ficou abaixo do crescimento do custo médio da mão de obra na construção civil, afetando o retorno das empresas. Programas amplos de qualificação profissional são prioritários para a cadeia produtiva da construção, com foco no ensino técnico para profissionais ocupados diretamente nas obras. Essa qualificação, para garantir maior dinamismo, pode ser realizada pela própria empresa. Uma iniciativa proposta nesse sentido pelo Deconcic, através do Programa Compete Brasil, é a capacitação de funcionários através da concessão de créditos tributários, incentivando as empresas a capacitar e certificar seus quadros.

GC - O debate em torno da segurança no trabalho tem evoluído. Como essa questão se coloca no cenário geral da construção?

Carlos Eduardo Aurichio - A segurança dos trabalhadores é certamente uma preocupação do setor. Os acidentes de trabalho geram perda de produtividade, altos custos para as empresas e para o governo, para a previdência e para o país, sem contar o sofrimento humano e perdas pessoais. Deve-se buscar reduzir ou eliminar os acidentes no trabalho na construção, por meio da educação com o envolvimento de todos os agentes do processo produtivo, assim como a conscientização dos principais agentes do setor e dos governos. É necessário continuar investindo em gestão na prevenção de acidentes, criar programas de prevenção e campanhas de conscientização, promover o envolvimento dos profissionais e investir em equipamentos de segurança e qualidade dos materiais, máquinas e equipamentos. Cada vez mais tem sido debatida a importância da orientação e certificação de funcionários. As entidades do setor desenvolvem diversas ações neste sentido, criando uma nova geração de trabalhadores do setor conscientes dos riscos envolvidos na atividade e das melhores práticas para prevenir e reduzir o número de acidentes nas obras.

GC - O que podemos esperar para 2015?

Carlos Eduardo Aurichio - Para 2015, as primeiras estimativas indicam que o setor da construção deverá manter o nível de atividade atual, sem crescimento. Esperamos que, quando for restabelecida a confiança nos investimentos, o crescimento seja retomado a partir de 2016. Pelo lado positivo, deverão prosseguir as obras de ampliação da infraestrutura e de execução das unidades habitacionais remanescentes da fase dois do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV). As obras de outros setores, como ampliação e reforma de estradas e aeroportos, contratadas em 2012 e 2013, também deverão ser executadas. Por outro lado, o mercado imobiliário prosseguirá em fase de ajuste. A renda e o consumo das famílias tenderão a crescer menos e as contratações de obras relacionadas a novos investimentos como os da fase 3 do MCMV deverão ocorrer com mais intensidade somente a partir do segundo semestre. O setor da construção civil, representado pelo Deconcic, está dando seu exemplo por meio da agenda de propostas que serão apresentadas no ConstruBusiness, para a melhoria da produtividade e competitividade do setor e da economia como um todo.

GC - Qual a importância do Construbusiness para a construção?

Carlos Eduardo Aurichio - O Construbusiness se consagrou como um dos eventos mais importante do setor da construção civil no país. Este é um importante fórum de debate que reúne os grandes tomadores de decisões do país, com participação do governo e das entidades representativas e empresas do setor, para a discussão dos principais desafios e oportunidades da construção civil. Como resultado, o Construbusiness é uma plataforma para o lançamento de propostas estratégicas que resultaram em importantes conquistas para o desenvolvimento do setor e do país. Nesta edição será apresentada uma agenda propositiva para a Cadeia Produtiva da Construção com os temas Desenvolvimento Urbano e Infraestrutura Econômica. Trata-se de uma oportunidade única de discussão de temas e propostas com impactos na economia brasileira e sustentabilidade.

País precisa de um novo ciclo de obras

O Brasil precisa iniciar um novo ciclo de obras, que deverá demandar investimentos anuais de R$ 558, 8 bilhões até 2022, o equivalente a R$ 4,5 trilhões pelos próximos sete anos. As avaliação está no estudo 11º Construbusiness – Antecipando o Futuro. A publicação, elaborada pelo Departamento da Indústria da Construção (Deconcic) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), foi apresentada por Carlos Eduardo Auricchio, durante o 11º Construbusiness – Congresso Brasileiro da Construção 2015, que aconteceu dia 9 de março.

“Temos que nos vestir do espírito de otimismo característico dos empresários e iniciar imediatamente esse novo ciclo, aprimorando o novo modelo para a nossa atual realidade”, afirmou Auricchio. De acordo com o estudo 11º Construbusiness, o setor da construção movimenta ao menos 9,1% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e responde por 52,2% da formação bruta de capital fixo do país.

“É preciso ressaltar o papel fundamental que a indústria da construção civil tem no cenário econômico. Em suas diversas atividades, a cadeia produtiva tem empregado 13% da força de trabalho do país. Ou seja, é responsável por importantes investimentos na área de infraestrutura, pela geração de empregos e pela movimentação da economia brasileira”, afirmou Paulo Skaf, presidente da Fiesp.

De acordo com os dados do estudo, a média anual de investimentos em infraestrutura econômica entre 2010 e 2014 foi de R$ 184,5 bilhões, cerca de 3,8% do PIB nacional. Para Auricchio, o impacto disso sobre a competitividade do país é enorme. “Esses investimentos garantem a oferta de serviços de transportes, energia e telecomunicação a custos competitivos a longo prazo, aumentando a produtividade de toda a economia do Brasil”.

 

 

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