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Revista GC - Ed.38 - Junho 2013
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Entrevista

Nova revolução da qualidade na engenharia brasileira

Entrevista com Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, diretor da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Durante o Construction Congresso, realizado paralelamente à Construction Expo 2013, várias comunicações importantes e de grande interesse para a cadeia da construção foram feitas por especialistas e membros da comunidade acadêmica. Uma delas foi a da entrada em vigor da NBR 15575, com as novas normas para o desempenho do concreto. Trata-se de uma lista de exigências quanto a segurança estrutural, incêndio, estanqueidade, desempenho térmico, acústico e lumínico, durabilidade e manutenção, entre tantos outros.

Os sistemas à base de cimento têm uma base normativa sólida, com um acervo de mais de 300 documentos, que comprovam a qualidade desses produtos. Uma das vantagens da Norma de Desempenho é referenciar os documentos já existentes quando estes atenderem aos requisitos propostos. Juridicamente, as normas brasileiras são voluntárias, podendo ganhar força através de leis que as referenciam, como o Código de Proteção de Defesa do Consumidor. No entanto, como as normas técnicas são o registro das melhores práticas e do conhecimento consolidado, são documentos referenciados em muitos contratos. No caso específico da ABNT NBR 15575, os requisitos servem como base para a aprovação de financiamentos para novas construções, por exemplo.

Para muitos engenheiros brasileiros, a falta de uma norma de desempenho impediu, na prática, a construção habitacional brasileira de evoluir, impondo à nossa indústria da construção um atraso de mais de uma década em relação a outros países, seja na evolução de sistemas construtivos, de projetos, de materiais, enfim, de toda uma cultura na engenharia habitacional.

A norma é vista como um divisor de águas na construção civil brasileira, pois obriga as construtoras a conceberem e executarem as obras para que o nível de desempenho especificado em projeto seja atendido ao longo de uma vida útil. Sua adoção pelas empresas implica em uma nova metodologia de se projetar edificações, que ainda precisa ser compreendida pelos profissionais do mercado. Para falar sobre o assunto, Grandes Construções ouviu Luiz Pinto da Silva Filho, professor e diretor da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Entusiasmado, ele declarou que, em sua opinião, a aprovação da NBR 15575 represen


Durante o Construction Congresso, realizado paralelamente à Construction Expo 2013, várias comunicações importantes e de grande interesse para a cadeia da construção foram feitas por especialistas e membros da comunidade acadêmica. Uma delas foi a da entrada em vigor da NBR 15575, com as novas normas para o desempenho do concreto. Trata-se de uma lista de exigências quanto a segurança estrutural, incêndio, estanqueidade, desempenho térmico, acústico e lumínico, durabilidade e manutenção, entre tantos outros.

Os sistemas à base de cimento têm uma base normativa sólida, com um acervo de mais de 300 documentos, que comprovam a qualidade desses produtos. Uma das vantagens da Norma de Desempenho é referenciar os documentos já existentes quando estes atenderem aos requisitos propostos. Juridicamente, as normas brasileiras são voluntárias, podendo ganhar força através de leis que as referenciam, como o Código de Proteção de Defesa do Consumidor. No entanto, como as normas técnicas são o registro das melhores práticas e do conhecimento consolidado, são documentos referenciados em muitos contratos. No caso específico da ABNT NBR 15575, os requisitos servem como base para a aprovação de financiamentos para novas construções, por exemplo.

Para muitos engenheiros brasileiros, a falta de uma norma de desempenho impediu, na prática, a construção habitacional brasileira de evoluir, impondo à nossa indústria da construção um atraso de mais de uma década em relação a outros países, seja na evolução de sistemas construtivos, de projetos, de materiais, enfim, de toda uma cultura na engenharia habitacional.

A norma é vista como um divisor de águas na construção civil brasileira, pois obriga as construtoras a conceberem e executarem as obras para que o nível de desempenho especificado em projeto seja atendido ao longo de uma vida útil. Sua adoção pelas empresas implica em uma nova metodologia de se projetar edificações, que ainda precisa ser compreendida pelos profissionais do mercado. Para falar sobre o assunto, Grandes Construções ouviu Luiz Pinto da Silva Filho, professor e diretor da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Entusiasmado, ele declarou que, em sua opinião, a aprovação da NBR 15575 representa uma nova Revolução da Qualidade na engenharia brasileira. Saiba por que lendo o que o engenheiro tem a dizer.

Grandes Construções – Acaba de entrar em vigor, no Brasil, a nova norma de desempenho de concreto. Quais os impactos diretos que isso terá sobre a cadeia da construção no País?

Luiz Carlos Pinto da Silva Filho – De fato, 2013 vai ser um ano muito marcante, porque nós vamos viver o que eu chamo de a 3ª Revolução da Qualidade na Engenharia Brasileira. O conjunto de normas de desempenho, que agora entra em vigor de forma efetiva, vai ter o efeito de consolidar uma série de critérios existentes, métodos, maneiras de avaliar e estabelecer quais são as dimensões a se considerar nesse desempenho. Alguns desses critérios são tradicionais, associados à resistência estrutural, à segurança ao fogo. Mas outros são novos, como a segurança em uso e operação, o conforto termoacústico que se têm foco no usuário, o que é muito importante e o conjunto de durabilidade, adequação ambiental, manutenibilidade, que têm muito a ver com o desempenho a longo prazo (N.R.: Manutenibilidade é uma característica inerente a um projeto de sistema ou produto, e se refere à facilidade, precisão, segurança e economia na execução de ações de manutenção nesse sistema ou produto). Então, essas três dimensões – a dimensão da segurança, a dimensão do usuário e a dimensão longo prazo, da vida útil, isso revoluciona, de certa forma, a maneira como nós vamos ter de pensar, daqui para frente.  Nós vamos ter de ampliar um pouquinho as capacidades de desempenho, ampliando o foco no acompanhamento das obras, desde o seu nascimento. Teremos de pensar, inclusive, de que forma nós vamos reaproveitar esses materiais, para que possamos ter um desempenho ambiental melhor.

GC – E quanto aos procedimentos de inspeção, manutenção, de reformas, o que muda, na prática, com a nova norma?

Luiz Carlos Pinto – A norma traz um conjunto de ações que fazem com que tenhamos cada vez mais uma visão de conservação, um pouco além da manutenção. Porque a manutenção é aquilo que eu previa para atingir minha vida útil de projeto, mas a conservação é um conceito maior, que são todas as ações que eu possa ter para fazer com que as obras possam ter um maior ciclo de vida, que mantenham o desempenho e que seja o mais longo possível.

GC – Então, pelo que o senhor está dizendo, até então o foco da indústria de concreto eram as questões da segurança. Com a nova norma, esse foco passa a ser mais amplo contemplando esses outros aspectos?

Luiz Carlos Pinto – Exatamente. É claro que as questões de segurança são fundamentais, pois se a obra não para em pé, não há como ter bom desempenho. Portanto, até hoje a gente veio com uma concepção muito forte na questão da segurança, da otimização estrutural, da qualificação do material, e a gente vê que o concreto se transformou bastante, a gente tem hoje famílias de concreto, com diferentes características, uns com características quase estéticas, outros, especiais, mais voltados para resolver questão da resistência à tração, por exemplo. Temos ainda os compósitos, com incorporação de fibras, que é uma área de pesquisa de ponta, que nos permite ter concretos com características bem próximas às do aço. Essas são fronteiras muito importantes de desenvolvimento, que vão proporcionar materiais que possam ser utilizados para construir estruturas cada vez maiores, com tensões e desempenho melhores, maior durabilidade e menor chance de fissuração. Hoje estamos produzindo materiais que chamamos de “ultra-alto desempenho”.

GC – Essas preocupações que passam a ser incorporadas pelas novas normas, deverão, de alguma forma, se refletir no preço do concreto e, automaticamente, no custo das obras?

Luiz Carlos Pinto – Não necessariamente, e  é isso que é interessante!  Nós estamos conseguindo fazer avanço nas obras tão importantes que estamos conseguindo atender às questões básicas de desempenho, ter mais sustentabilidade, ter melhor desempenho em relação à vida útil e durabilidade, sem necessariamente agregar custo. Isso está sendo alcançado a partir de várias ações, desde à incorporação de materiais reciclados dentro do concreto, de maneira positiva não só tendo um ganho ambiental, mas inclusive favorecendo algumas das propriedades que o concreto pode ter -- até saber projetar o material concreto para que ele tenha as características mais adequadas para cada tipo de utilização. E isso vale para uma utilização mais externa, ou para uma utilização que demanda mais capacidade tensional, ou ainda uma utilização que permita maior exposição aos esforços térmicos. Hoje, nós conhecemos tanto esse material, que conseguimos fazer mais e melhor, muitas vezes com materiais ambientalmente mais corretos, e sem que se tenha o impacto dos custos. É claro que toda inovação, no momento em que ela esteja em pequena escala tem um custo diferenciado. Mas, no momento em que se consegue trazer essa inovação para um mercado maior, obviamente os custos médios acabam baixando. Portanto, o que a gente vai passar a observar é uma diversificação cada vez maior de tipos de concreto. E isso cria a necessidade de  especialistas que possam escolher e projetar o melhor concreto para o cada tipo de utilização.

GC – E do ponto de vista da formação acadêmica, as universidade já contemplam essas mudanças ou os currículos terão de ser adaptados para incorporar essas inovações, esses novos conceitos?

Luiz Carlos Pinto – Com a retomada do crescimento do País e, ao mesmo tempo, com a abertura que vivenciamos, tecnológica e científica para o mercado internacional e para a normalização, nós passamos a ser atores globais, incorporando, cada vez mais, muita coisa nova dentro da doutrina da construção civil brasileira, e em muito pouco tempo. Nenhum país fez tantos avanços como fizemos, seja nos materiais, seja nos métodos construtivos. Nós temos aí estabilidade global, resistência ao corte, auditoria de projeto, a norma de concreto foi totalmente revisada, avançamos muito nas normas de incêndio, a própria fabricação do concreto avançou. No momento que nós temos esse grande desenvolvimento, temos, também, de preparar e capacitar os profissionais. Porque não adianta avançar só na normalização, nos conceitos, nas pesquisas, se isso não vai para o meio técnico. E a maneira de levar isso para o meio técnico é através de seminários, da divulgação pelo Ibracon, ou por meio das revistas, ou seja, nós precisamos expor isso ao meio técnico, investindo nos novos profissionais, nas novas gerações, que vão trabalhar com esses novos conhecimentos daqui a 20 ou 30 anos. Vai ter de haver um esforço na educação, sim. Temos algumas áreas, como Patologias da Construção, ou Segurança contra Incêndio, que são tão importantes, mas que ainda não são áreas obrigatórias em muitos cursos de Engenharia e Arquitetura. Mas vão ter de ser, porque estamos começando a precisar desses conhecimentos para garantir desempenho. Isso vai impactar o meio técnico e vai impactar a academia, nós precisamos nos preparar para formar os profissionais adequados para essa nova realidade.

GC – A propósito das novas tecnologias, que vêm sendo pesquisadas, fala-se muito, por exemplo, no desenvolvimento do concreto mais sustentável com a adição de fibras aos materiais convencionais. Em que pé estão essas pesquisas? Elas ainda são objeto de estudo de laboratórios ou já são aplicadas no mundo real?

Luiz Carlos Pinto – Nos últimos anos, nós exploramos basicamente todos os componentes do concreto, para entender  de que forma poderíamos tirar o melhor proveito de cada um deles. Revimos os agregados, seja para melhorar sua qualidade, seja para fazer agregados especiais para concreto de alta resistência, ou ainda para incorporar agregados reciclados, areia reciclada ou resíduos de outras indústrias. Revisitamos as matrizes, aprendemos a fazer melhor empacotamento, para poder ter maior resistência e durabilidade, utilizando cada vez menos clinker para ter o impacto ambiental menor. Utilizamos a nanotecnologia para ter concretos que sejam autolimpantes, ou que tenham outras características de superfície diferenciada. Estamos explorando outras fronteiras, no sentido de levar esses materiais até os seus  limites. Algumas dessas pesquisas estão em fase de desenvolvimento para verificação se há viabilidade técnica. Mas muitas outras já geraram modificações que podem vir para o meio técnico.  É só a gente imaginar que a  sílica ativa no uso das adições, foi iniciada na década de 90, e hoje já faz parte do conhecimento corrente. O uso das fibras é a próxima grande fronteira, que vai entrar em grande escala para todos os concretos. A combinação entre o uso de fibras e o concreto autoadensável permite que a gente faça concretos muito mais robustos, poucos propensos a gerar uma série dessas falhas pequenas que a gente tem durante a execução e que muitas vezes acabam comprometendo a durabilidade. No momento em que eu consigo ter materiais mais avançados, de melhor desempenho e menos propensos a gerar falhas, eu consigo ter construções de melhor qualidade.

GC – A Engenharia Civil,  por muito tempo, cultivou um perfil um pouco conservador. Isso é coisa do passado? Ela hoje está tão aberta a incorporar essas novas tendências?

Luiz Carlos Pinto – A abertura do nosso mercado a diferentes influências externas nos levou a perder muito daquele aspecto conservador. Hoje, a Engenharia Civil está demandando essas novas tecnologias. Estamos num ponto em que talvez o perigo seja a gente entender que impactos podem ter essas inovações tecnológicas. Porque, no momento em que começam a mudar esses materiais, eu vou ter que ver se todos os meus critérios de norma ainda permanecem válidos, como os critérios de deformação lenta, de retração, que foram previstos para um certo tipo de material. No momento em que se começa a mudar tudo isso, eu preciso revisitar esses critérios, seja para torná-los mais exigentes, ou mesmo para torná-los menos exigentes. Hoje nós temos concretos que com muito menos cobrimento vão garantir a mesma durabilidade que esses concretos atuais, de 30 MPa (Mega Pascal). Assim sendo, eu poderia até pensar, do ponto de vista da durabilidade, em reduzir o cobrimento. Mas aí é que entra a questão: quando eu penso em desempenho eu tenho de pensar todas as dimensões. Eu talvez possa reduzir pela durabilidade, mas não possa reduzir pela resistência ao fogo. Talvez eu precise daquele cobrimento para que as altas temperaturas não cheguem no nível da armadura, no caso de um sinistro.

GC – Seria certo afirmar que, com todas essas novas variáveis, os projetos se tornarão cada vez mais complexos?

Luiz Carlos Pinto – Certamente. Eu precisarei ter times de projetos interdisciplinares, e ter bons gestores, para gerar melhores edificações. Nós temos muita tecnologia.

GC – Em relação à indústria do concreto no restante do mundo, em que posição o Brasil está, nesse momento? A nossa indústria está compatível com o estado da arte desse setor, com o que há de mais novo, produzido no mundo?

Luiz Carlos Pinto – Felizmente o Brasil está em nível de competição com os melhores países do mundo. Em termos de tecnologia de concreto e de construção. Mas temos de transferir esses conhecimentos para o meio técnico, de maneira segura. A construção é um dos nossos itens de exportação. Nós construímos uma série de coisas, seja no Oriente Médio, seja na América do Sul, seja na Europa. Do ponto de vista científico, o fundamental é termos investimentos continuados na iniciação científica, nos grupos de pesquisa, aumentando de maneira significativa os recursos, para que a pesquisa seja continuada. Porque o problema é quando há aquela política de sanfona, que dá um pouco de dinheiro e retira e acaba não dando resultados. Hoje nós temos, em vários lugares do País, centros de excelência que estão interagindo, alinhados com o que é produzido nos países mais desenvolvidos, seja na Europa e Estados Unidos, Japão, etc. Nós temos perspectivas muito interessantes, desde que seja mantido esse cenário, e que haja interação entre academia e indústria. Precisamos garantir canais para que as pessoas que estão pesquisando possam transferir  essas novas  tecnologias para o meio técnico,  e que haja financiamento e comprometimento do governo e da sociedade como um todo na infraestrutura do País. Esse vai ser o grande gargalo. Não se constrói um país sem infraestrutura, sem engenharia e sem concreto.

 

 

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