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Revista GC - Ed.59 - Maio 2015
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Entrevista

O segredo dos 7 x 1

Entrevista com Ruediger Leutz, diretor geral da Porsche Consulting. Para o consultor alemão da Porsche Consulting, as construtoras e empresas brasileiras devem investir e acreditar mais na educação e treinamento de sua mão-de-obra, ao invés de aguardar aç
Por Mariuza Rodrigues

Assim como o ícone automobilístico, a marca alemã Porsche ampliou sua projeção no mundo empresarial a partir de um processo radical de simplificação de processos e de excelência operacional. Nem sempre foi assim. No início da década de 1990, a empresa se viu em uma crise, com vários desafios a serem superados. Em apenas três anos, a Porsche se reinventou e se projetou como uma das mais lucrativas montadoras de carros esportivos do mundo. Desse processo surgiu, em agosto de 1994, a Porsche Consulting GmbH, uma subsidiária de propriedade integral da Dr. Ing. h.c. F. Porsche AG, responsável por acompanhar esse processo de melhoria contínua junto à matriz, que também atende à outras empresas que desejam alcançar o mesmo objetivo.

No Brasil, a Porsche Consulting conquistou importantes clientes na área da construção, que vivem um grande desafio de ampliar a produtividade. Segundo Rudiger Leutz, diretor geral da Porsche Consulting, a produtividade é uma combinação entre investimento no valor humano, por meio de educação e treinamento, ao lado da otimização das etapas.  Algo como o segredo do 7 x 1, marca espetacular da Alemanha sobre o Brasil durante a Copa do Mundo. Agora é a vez dos brasileiros virarem essa página e tentarem vencer esse jogo, empregando os meios orientados para a “geração  de valor, implementação e processo”. Como? Confira a entrevista a seguir.

Grandes Construções - O que é exatamente produtividade? É um quantitativo de produção ou é necessário associa-lo a outro índice de qualidade e segurança em canteiro de obra?

Ruediger Leutz - Na teoria, a produtividade significa um output (quantitativo de produção) criado com um esforço (quantitativo de trabalho). Mas na nossa visão da Porsche, a produtividade sempre tem que ser vista em conjunto com mais quatro fatores - Custos, Qualidade, Tempo de Entrega e Motivação dos Funcionários. E além disso, especialmente na construção, é muito importante considerar o fator da segurança. Se quiser fazer um bom trabalho de aumentar a produtividade e eficiência na área de construção, você tem que considerar todos esses fatores com a mesma importância, se não você perde o resultado da “produtividade” em outros pontos que têm o mesmo valor. 


Assim como o ícone automobilístico, a marca alemã Porsche ampliou sua projeção no mundo empresarial a partir de um processo radical de simplificação de processos e de excelência operacional. Nem sempre foi assim. No início da década de 1990, a empresa se viu em uma crise, com vários desafios a serem superados. Em apenas três anos, a Porsche se reinventou e se projetou como uma das mais lucrativas montadoras de carros esportivos do mundo. Desse processo surgiu, em agosto de 1994, a Porsche Consulting GmbH, uma subsidiária de propriedade integral da Dr. Ing. h.c. F. Porsche AG, responsável por acompanhar esse processo de melhoria contínua junto à matriz, que também atende à outras empresas que desejam alcançar o mesmo objetivo.

No Brasil, a Porsche Consulting conquistou importantes clientes na área da construção, que vivem um grande desafio de ampliar a produtividade. Segundo Rudiger Leutz, diretor geral da Porsche Consulting, a produtividade é uma combinação entre investimento no valor humano, por meio de educação e treinamento, ao lado da otimização das etapas.  Algo como o segredo do 7 x 1, marca espetacular da Alemanha sobre o Brasil durante a Copa do Mundo. Agora é a vez dos brasileiros virarem essa página e tentarem vencer esse jogo, empregando os meios orientados para a “geração  de valor, implementação e processo”. Como? Confira a entrevista a seguir.

Grandes Construções - O que é exatamente produtividade? É um quantitativo de produção ou é necessário associa-lo a outro índice de qualidade e segurança em canteiro de obra?

Ruediger Leutz - Na teoria, a produtividade significa um output (quantitativo de produção) criado com um esforço (quantitativo de trabalho). Mas na nossa visão da Porsche, a produtividade sempre tem que ser vista em conjunto com mais quatro fatores - Custos, Qualidade, Tempo de Entrega e Motivação dos Funcionários. E além disso, especialmente na construção, é muito importante considerar o fator da segurança. Se quiser fazer um bom trabalho de aumentar a produtividade e eficiência na área de construção, você tem que considerar todos esses fatores com a mesma importância, se não você perde o resultado da “produtividade” em outros pontos que têm o mesmo valor. 

GC - Existe algum índice mundial de produtividade em canteiros?

Ruediger Leutz - No meu conhecimento, não existe um índice padrão mundial de produtividade em canteiros. A coisa linda da construção é, que quase toda obra ou quase todo canteiro é único e diferente. Mas certamente existem índices para comparar a produtividade para os diferentes serviços que são executados nas obras ou nos canteiros. Aqui, como consultoria, nós temos vários índices para comparação entre obras e entre construtoras que podem ajudar para definir metas de melhoria e para mostrar que é possível melhorar. Mas importante é considerar sempre as características de cada obra ou de cada canteiro .... não podemos comparar “maçã com pêra” com um índice geral mundial .... isso não ajuda as obras e não agrega valor!

GC - Pode mencionar alguns cases onde a consultoria já atuou no país?

Ruediger Leutz - Nos já atuamos em várias obras e canteiros de todo o país. Infelizmente, não podemos divulgar todos os trabalhos por causa da confidencialidade com os nossos clientes. Mas as obras mais conhecidas que podemos mencionar são o projeto Belo Monte, o projeto do Monotrilho em São Paulo e vários canteiros do Metrô em São Paulo.

GC - Qual foi sua percepção ao conhecer a realidade brasileira?

Ruediger Leutz - Na verdade, a minha percepção da realidade brasileira, especialmente na área de construção, foi totalmente normal. Eu encontrei uma área ou uma indústria que não tinha muita experiência sobre o assunto excelência operacional, Lean ou melhoria contínua. E por isso encontramos um bom potencial para melhorar os processos. Em termos de mão de obra, também não era uma surpresa que o nível da qualificação dos funcionários não era comparável com a indústria automobilística. E como em todas as áreas no Brasil..... à falta de organização, disciplina e pontualidade .... o Brasileiro recompensa com paixão, criatividade e flexibilidade!

GC - Qual a comparação com a realidade de outros países. Pode exemplificar?

Ruediger Leutz - A realidade em países europeus é diferente, por que o nível de qualificação das pessoas é muito mais elevado. O sistema de educação na Europa ajuda bastante para que os funcionários tenham uma boa educação básica e uma muito boa qualificação profissional. Essa para mim é a causa por que o índice de produtividade nesses países é muito maior do que no Brasil. E conseqüentemente, a taxa de absenteísmo é muito menor do que no Brasil. Não quero falar que tudo lá fora é melhor .... com certeza não é .... mas a base para criar uma base de funcionários de alta performance é melhor e as empresas estão investindo nesse ponto. Isso poderia ser uma boa dica para as empresas brasileiras.

GC - No Brasil existem empresas de nível mundial. A questão da produtividade está relegada a alguns níveis de empresa ou pode ser vista no âmbito nacional?

Ruediger Leutz - Com certeza o Brasil tem muitas empresas de nível mundial que têm uma produtividade espetacular. Como eu já falei, eu acho que as empresas da Europa e dos Estados Unidos têm a vantagem de ter uma base de funcionários melhor  em se tratando de qualificação e educação ..... mas no final das contas o que faz a diferença é mesmo o esforço da empresa para utilizar e melhorar a competência dos funcionários. Para mim, a questão de produtividade não é uma questão de nacionalidade, mas muito mais uma questão da cultura da empresa e do esforço dela em qualificar e motivar os seus funcionários. E isso é totalmente independente dos níveis, das hierarquias ou da nacionalidade das empresas. Por isso temos empresas brasileiras que são exemplos mundiais de sucesso e da produtividade e temos empresas européias e americanas que operam com um nível de produtividade muito baixo. As melhores empresas do mundo em termos de produtividade são as melhores por que elas têm uma cultura de alta performance em todos níveis da organização, da presidência para o chão da fábrica. E elas trabalham fortemente em cima de fatores de sucesso para manter ou melhorar essa cultura ...... independentemente da nacionalidade.

GC- A deficiência educacional é sem dúvida o principal obstáculo do país nesse sentido.  O Sr. já se deparou com essa dificuldade, como foi superada e é possível ser superada?

Ruediger Leutz - Concordo completamente com esse ponto e já falei que nesse ponto a responsabilidade para melhorar a situação está nas mãos das empresas. No Brasil não adianta esperar uma mudança geral do sistema educacional, isso não vai acontecer nos próximos 10 anos. As empresas tem que investir nos funcionários em termos de treinamento, qualificação, educação ..... isso vale muito mais do que unicamente o aumento de salário. O fator mais valioso para motivar a equipe é conhecimento e educação ..... muito mais do que compensação financeira. Se todas as empresas entenderem esse ponto, o nível geral da mão de obra no Brasil vai aumentar automaticamente. Na Alemanha, esse sistema começou com as iniciativas das empresas e hoje em dia o governo apoia esse sistema, que é um fator de sucesso importante da Alemanha.

GC - Ao mesmo tempo, as porções dos mais jovens e dos mais instruídos, rejeitam a área de construção. Porque e como mudar essa realidade?

Ruediger Leutz - Exatamente por isso. A área de construção e as construtoras não oferecem esse ponto de qualificação e treinamento com o argumento de evitar custos adicionais. Mas como consequência, os jovens não querem mais trabalhar nessa área por que não tem perspectiva em termos de crescimento educacional. Já falei que o ponto de baixo salário não é o problema principal. Hoje em dia, as construtoras até oferecem um aumento de salário de 30% ou 40% adicional para as pessoas que vão ficar 3 ou 4 anos numa obra distante para executar o trabalho.

Mas a falta de desenvolvimento pessoal e a falta de perspectiva profissional são os pontos que fazem essas pessoas desistir da área de construção. Investimento nos funcionários é o melhor investimento que uma empresa pode fazer - qualificação, treinamento, job rotation, cursos adicionais, etc, não são custos adicionais, são investimentos que trazem um grande retorno em médio e longo prazo. E ao mesmo tempo eles aumentam produtividade e qualidade do trabalho e reduzem erros e absenteísmo.

GC - O setor de construção deve pensar em maior industrialização para superar a falta de mão de obra?

Ruediger Leutz  - A indústria automobilística está pensando agora na “indústria 4.0” ...a co-operação entre funcionário e robô ..... eu acho que a área de construção tem que pensar na “construção 2.0”. Isso para mim significa como melhorar todos os processos operativos e administrativos com um pensamento de melhoria contínua. Industrialização para mim também significa: sincronização de processos entre construtora e todos os fornecedores, utilização eficiente de todas as máquinas na obra, cuidar de meio-ambiente, utilizar funcionários com grande experiência profissional, etc..... ! Assim, eu concordo que pensar em “industrialização” pode superar a falta de mão de obra, por que assim a indústria da construção vai precisar muito mais de pessoas de alta qualificação. E isso vai ajudar a aumentar a atração para jovens entrar nessa indústria.

GC - Que áreas devem ser priorizadas para se elevar a produtividade em canteiros?

Ruediger Leutz - Na verdade, não existe uma prioridade entre as áreas. Todas as áreas da construção precisam ser otimizadas. Mas nós na Porsche recomendamos uma sequência. O nosso princípio é “de dentro para fora”. Isso significa iniciar pelo ponto onde se cria o maior valor.  Primeiro, vamos começar a melhorar os processos operacionais da obra ou do canteiro (por exemplo terraplanagem ou lançamento de concreto). Depois vamos melhorar os processos de apoio (por exemplo, logística). E então, passamos para os processos com  interfaces com os fornecedores e continuamos assim.

GC - Melhorar a remuneração é o ideal e suficiente para assegurar a mão de obra?

Qual a importância do fator humano para alcançar esse desempenho?

Ruediger Leutz - Já mencionei que a remuneração salarial não é o fator mais importante para motivar os funcionários. Se o trabalho não mostrar perspectiva e não contemplar treinamento e qualificação, não adianta aumentar o salário .... o funcionário vai embora buscando novos desafios. Especialmente no Brasil ..... o povo brasileiro adora estudar e se qualificar, o que mostra que existe uma grande vontade de crescer profissionalmente .... independentemente do salário. Um aumento de salário sempre tem que ser um resultado de um trabalho melhor, de uma qualidade melhor ... mas nunca deve ser um fator para assegurar.

GC - Pode mencionar alguns cases de mudanças reais no canteiro, a partir do apoio da consultoria?

Ruediger Leutz - Na verdade, sem exagerar, todos os projetos onde atuamos tiveram mudanças reais com o nosso apoio. Por enquanto, não encontrei uma obra onde não encontramos potenciais de melhoria. Eu posso mencionar dois cases com resultados impressionantes:

Numa obra de construção de um porto, implementamos um gerenciamento diário de chão de obra. Isso significou que nós planejamos as atividades numa base diária junto com os engenheiros e que monitoramos a execução com reuniões diárias junto com todos os trabalhadores, em 10 minutos no início do dia. Além disso, alinhamos o processo de entrega de material junto com o fornecedor para evitar desperdícios e perdas de material por causa de vencimento. Com essas atividades e mais iniciativas para eliminar desperdícios, conseguimos aumentar a produtividade da mesma equipe em 30%.

Junto a uma construtora de prédios residenciais, nós implementamos os princípios de excelência operacional e Lean numa obra em Santa Catarina. Antes, a construtora conseguia finalizar um andar completo em 13 dias. Após o nosso apoio, que contemplou a sincronização de processos o redesenho do canteiro e o alinhamento com os fornecedores, a construtora conseguiu finalizar um andar em 5 dias ...com a mesma equipe e com os mesmos equipamentos.  São exemplos normais de o que é possível quando se aplicam os princípios de excelência operacional e quando se integram os funcionários no processo de melhoria contínua.

GC - Qual é a metodologia defendida pela consultoria para alcançar os resultados de produtividade?

Ruediger Leutz - A metodologia se chama “excelência operacional” que é baseada nos princípios de “Just-in-time”. Essa metodologia foi desenvolvida na empresa Toyota em 1950 e também ficou famosa na época de reestruturação da empresa Porsche em 1992. O objetivo dessa metodologia é a redução ou eliminação de desperdício. Significa que você tem que questionar sempre todas as atividades que não agregam valor para o seu cliente! Esta é uma filosofia de melhoria contínua ..... sempre existe uma possibilidade para melhorar ... na verdade não é só uma filosofia ... é uma cultura!

GC - O setor da construção brasileira ainda anda em mão oposta à indústria, mesmo a que atende ao setor através de equipamentos, materiais, sistemas e etc. Esse não é um dos motivos da dificuldade em torno da questão da produtividade?

Ruediger Leutz - Eu sempre falei que a indústria de construção é diferente .... e é verdade ! Não é possível só copiar o sistema da Toyota ou da Porsche para a área de construção! Mas o desafio é aplicar os princípios da excelência operacional para a realidade da construção! Eu acho que a construção sempre tentou argumentar que tudo isso não funciona, por que a construção não é comparável com uma fábrica de automóveis ...... mas agora, paulatinamente, a construção entendeu que não é uma questão de imitar os princípios da indústria automobilística, mas aprender a metodologia e aplicar a cultura na realidade da construção .... e os resultados que alcançamos na obras e nos projetos de grandes empreendimentos mostram que é possível e que existe ainda muito mais potencial para melhorar.

GC -  Falta de produtividade também pode ser vista como uma das “muletas” para os altos custos das construções brasileiras?

Ruediger Leutz - Certamente. Na minha visão, são dois pontos: falta de produtividade e muito desperdício nos processos. Tudo isso resulta em atrasos, retrabalho, correção de erros, troca de funcionários, paradas de processos, altos estoques de materiais, perdas de materiais ...... No final das contas, todo o desperdício tem um preço que alguém tem que pagar no final ! Antigamente, ninguém via esses custos de desperdício .... tudo era resolvido com a utilização de mais pessoas para “camuflar” os defeitos. Mas hoje em dia, a mão de obra é cara e as empresas tem que buscar outras soluções para conseguir operar com lucro.

GC - O Sr. vê novos horizontes, a partir dessa demanda por mais produtividade em canteiros?

Ruediger Leutz - Eu acho que estamos no início de uma jornada de excelência operacional. Tenho certeza, que a indústria de construção vai seguir o mesmo caminho que a indústria automobilística. Nós vamos ter também novas tecnologias e novos equipamentos mais eficientes e ecológicos, mas principalmente precisamos otimizar os processos, a organização e o planejamento das obras. Hoje estamos na época de “construção 1,5” .... mas rapidamente, também vamos falar sobre a construção 2.0 e 3.0 .... sem dúvida ! Construção é uma área muito atraente e não tenho dúvida que no futuro muitos jovens vão ter vontade de trabalhar nesse segmento por causa dos grandes resultados e conquistas que o setor está produzindo.

 

 

 

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