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Catalisador de mudanças

No lastro do isolamento, uma nova mentalidade vai ganhando forma também na construção, o que pode acelerar o processo de digitalização nos canteiros e nas empresas

Redação

18/08/2020 11h00 | Atualizada em 20/08/2020 22h38


Por Marcelo Januário

Dentre todos os setores produtivos, a construção ainda é um dos que menos incorporam tecnologias e que, como consequência, segue na rabeira em termos de inovação no país. Aos poucos isso vem mudando, principalmente por meio da introdução de equipamentos mais sofisticados, com alto nível de tecnologia embarcada, mas em geral ainda há um longo caminho a percorrer, que deve ser acelerado pela emergência trazida pela pandemia de covid-19. Ao menos, essa é a percepção de especialistas do setor. “Com a pandemia e o isolamento social, é provável que algumas tendências que já estavam em curso – e que talvez demorassem anos para se consolidar – venham a ocorrer mais rapidamente, acelerando novas concep&ccedi

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Por Marcelo Januário

Dentre todos os setores produtivos, a construção ainda é um dos que menos incorporam tecnologias e que, como consequência, segue na rabeira em termos de inovação no país. Aos poucos isso vem mudando, principalmente por meio da introdução de equipamentos mais sofisticados, com alto nível de tecnologia embarcada, mas em geral ainda há um longo caminho a percorrer, que deve ser acelerado pela emergência trazida pela pandemia de covid-19. Ao menos, essa é a percepção de especialistas do setor. “Com a pandemia e o isolamento social, é provável que algumas tendências que já estavam em curso – e que talvez demorassem anos para se consolidar – venham a ocorrer mais rapidamente, acelerando novas concepções de projetos, mobiliários urbanos e tecnologias”, opina Afonso Mamede, presidente da Sobratema.

Isso inclui empresas cada vez mais digitais, integração de sistemas, recursos de IoT, realidade virtual, realidade aumentada e inteligência artificial, dentre outros vetores que precisam ser assimilados à construção nos próximos anos. Até por uma questão de sobrevivência. Segundo o vice-presidente de arquitetura e urbanismo do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva), Eduardo Sampaio Nardelli, quem não for capaz de fazer a mudança da expertise para o mundo digital tende a desaparecer. “Estamos vendo emergir todo um processo novo, uma nova maneira de pensar o mundo”, avalia o especialista, que também é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie. “Isso já estava acontecendo antes, mas agora houve uma aceleração desse processo, pois todo mundo se viu obrigado a mudar o comportamento e transformar-se, lançando mão de ferramentas que já existiam, mas não eram exploradas a fundo.”

De imediato, a mudança passa por processos de comunicação, ferramentas de projeto, soluções de conectividade e trabalho colaborativo a distância, o que pode demandar investimentos significativos. “Precisamos entender nossas limitações, pois inovar não é só trocar um software ou instalar equipamentos no escritório, mas envolve todo um conjunto de ações necessárias, de uma agenda de investimentos”, observa o professor. “Não é só uma mudança de mentalidade, tem de incorporar novas ferramentas e processos.”

PRESENÇA FÍSICA

Frente à necessidade de diminuição do pessoal em campo, o home office ganhou uma escala jamais imaginada, tornando obrigatório o que antes era apenas uma opção. O mesmo ocorre com os sistemas de comunicação entre os equipamentos e a área de gerenciamento e planejamento de obra, cada vez mais interligados. “É uma tendência que existe no mercado e que ganha importância por reduzir o número de pessoas no campo”, acentua o gerente corporativo de gestão de equipamentos da Construtora Queiroz Galvão, Francisco de Souza Neto, destacando que recursos já disponíveis – como o levantamento topográfico por meio de drones – também ganham maior relevância ao permitirem reduzir a mão de obra operacional, além de agregarem rapidez, precisão e segurança. “Isso vale para o levantamento de pontos de atirantamento em taludes, por exemplo, sem necessidade de expor o colaborador nesse tipo de tarefa em alturas elevadas”, completa.

Inovações têm sido fundamentais para a industrialização dos processos construtivos

Ampliando o rol de tendências que devem se acelerar no pós-pandemia, Neto destaca ainda o amadurecimento de mercado para sistemas 3D de modelagem gráfica, assim como o monitoramento remoto das frotas, feitos em tempo real via satélite e sinal de celular. “As soluções de telemetria permitem desde a localização até o controle de horas trabalhadas, incluindo dados de consumo, alerta de falhas, controle de carga, ciclo de atividade, mensurando todas essas variáveis”, explica o especialista da Queiroz Galvão, que atualmente conta com uma frota de aproximadamente 1.100 equipamentos, entre Linha Amarela e caminhões. “Em túneis, por sua vez, já se utiliza a estação total robótica, que faz a varredura do perfil da obra em construção, identificando as irregularidades (underbreaks) por meio da emissão de um feixe de laser.”

Além das tecnologias, os processos tendem igualmente a mudar. Nesse ponto, Neto aposta na verticalização da produção industrial, com uma menor dependência de fornecedores externos. “A construtora busca rever processos constantemente, pois muitas vezes a inovação não passa por alta tecnologia ou investimento, mas sim por uma mudança do processo”, afirma. “E a tecnologia que já era utilizada também ganha uma importância adicional, uma vez que o isolamento exacerba a tendência de menos presença física nos canteiros.”

LINHA DE VALOR

Com menos mão de obra no canteiro, outro desafio para as construtoras é fazer com que as soluções adotadas façam sentido para diferentes tipos de obras. Nesse aspecto, é patente o potencial de avanço da construção industrializada, uma vertente mais ligada à montagem e que requer sintonia fina na operação. “Para tanto, o monitoramento deve ser priorizado, garantindo comunicação de ponta a ponta, o que é fundamental para que a construtora consiga passar confiança e tranquilidade às equipes”, comenta Thomas Diepenbruck, superintendente técnico de engenharia e inovação da HTB Engenharia.

O especialista explica que, para facilitar a gestão corporativa dos empreendimentos, a HTB adotou um sistema integrado de informação que facilita o check-list de verificação das obras via aplicativo. “Isso permite trazer a evidência da conformidade, com fotos e informações”, ele descreve. “Além da rapidez e facilidade, é possível trabalhar off-line, compartilhando tudo em ‘dashboards’, painéis e gráficos, que apoiam a gestão.”

Soluções como o BIM aumentam a eficiência da operação e diminuem o erro humano

Além disso, prossegue Diepenbruck, a empresa implantou um tour virtual que garante o monitoramento do avanço das obras. “Com um dispositivo móvel é possível acessar fotos em 360º, visualizar pontos específicos da obra, fazer registros com data, simulações e comparativos de evolução”, ele detalha, ressaltando que isso reduz a variabilidade das operações, tornando-as menos sujeitas às intempéries e à habilidade artesanal de quem executa a obra, além de trazer maior confiabilidade de prazos. “No exterior já é realidade, mas aqui está só começando”, reconhece.

No que pese seu caráter recente, essas inovações têm sido fundamentais para a industrialização do processo construtivo na empresa, garante Diepenbruck. “A volta da pandemia será um período de adaptação à mudança”, diz. “Mas o setor já estava neste caminho, com o construtor tornando-se mais um montador, como ocorre na indústria seriada, com mais atuação junto a sistemistas, trabalhando com soluções completas e kits prontos de construção modular.”

Ao lado desse avanço técnico, o especialista avalia que as empresas do setor precisam se preparar para desempenhar o papel de consultoras, indicando ao cliente a melhor solução para cada necessidade. “Precisamos entender o que é importante para o cliente, não só a obra ser mais rápida, mas também a linha de valor envolvida”, ressalta Diepenbruck. “Isso significa saber o que se aplica em cada caso, pois muitas vezes o que o cliente quer não é o que ele realmente precisa.”

MENTALIDADE

Outra construtora que se esforça para acompanhar as mudanças é a Andrade Gutierrez, que ao menos há uma década adota a excelência operacional como um de seus pilares estratégicos. Em 2017, a empresa criou o ‘Digital Day’, conectando-se a start-ups do mercado de inovação aberta, em um processo que se consolidou no ano seguinte, com a introdução de um setor específico para estimular a aplicação de novas tecnologias em suas operações.

Para tanto, o programa de inovação aberta ‘Vetor AG’ seleciona, contrata e acelera empresas de inovação. “Em 2019, foram aceleradas nove empresas, o que resultou no reconhecimento da empresa como a mais inovadora do setor de engenharia e construção”, ressalta André Medina, gerente de inovação da Andrade Gutierrez, referindo-se ao prêmio concedido pelo jornal ‘Valor Econômico’.

Para o especialista, não deve haver o que ele chama de ‘dia zero’ pós-pandemia, a partir do qual tudo será diferente. Mesmo assim, a tendência é que a forma de trabalho mude bastante daqui para frente. “Precisamos mudar o mindset sobre o trabalho, com um pensamento mais atualizado, mais focado em resultados do que em bater ponto”, exemplifica.

Assim como a HTB, a Andrade também considera a gestão remota das obras um desafio que veio para ficar. “O foco é ter um canteiro com o mínimo de pessoas, sem a parte administrativa”, afirma Medina. “Isso implica evitar a duplicação dessas funções, pois as tecnologias ajudam a fazer isso, digitalizando processos, desde um simples check-list até o acesso remoto às obras.”

Para ele, o ideal é manter-se próximo da obra sem precisar se deslocar, evitando custos para a empresa. “A atuação é mais efetiva com a tecnologia, trazendo ganhos em escalabilidade”, ele frisa. “E a covid-19 está acelerando bastante essa tendência de digitalização, mas esse tipo de ferramenta vai ser aprimorado cada vez mais.”

Rental tem potencial de disseminar tecnologias disponibilizadas pela indústria

A tendência, diz Medina, é de avanço em recursos como inteligência artificial, identificação de APIs (Application Programming Interface), predição de falhas de equipamentos, monitoramento de obras, gestão online de contratos e uso de BIM, drones, equipamentos autônomos e não tripulados, aumentando a eficiência da operação e diminuindo o erro humano. “Os dados são o novo petróleo e o erro de comunicação ainda é um dos problemas que mais afetam as construtoras, de modo que melhorar a forma de se comunicar vai ser um ganho, aprendendo a usar as ferramentas digitais e minimizando o retrabalho”, diz ele, ressaltando que o Brasil, comparado a outros países, tem uma produtividade muito baixa na construção, com muita mão de obra e pouca tecnologia. “É o setor que menos inova, mas a tendência é mudar esse cenário e já estamos vendo isso acontecer”, comenta Medina. “É preciso buscar lá fora e ver o que podemos acelerar, para não ficarmos sempre dez anos atrás do resto do mundo.”

QUALIDADE

Do outro lado do balcão, o segmento de rental também vê a oportunidade de o setor da construção dar um salto em termos de tecnologia. Para José Antônio Miranda, presidente do Sindileq/MG (Sindicato dos Locadores de Equipamentos, Máquinas e Ferramentas do Estado de Minas Gerais) e diretor tesoureiro da Analoc (Associação Brasileira dos Sindicatos e Associações Representantes dos Locadores de Equipamentos), a locação deve ser vista como uma ferramenta estratégica pelas construtoras, pois tem potencial de ajudar na disseminação das tecnologias disponibilizadas pela indústria. “O rental não gera tecnologia, mas faz a ponte entre fabricante e usuário, de modo que o mercado possa absorver as novas tecnologias”, ele pontua.

Com faturamento acima de R$ 7 bilhões, o setor atua em um mercado exigente, que demanda recursos tecnológicos e, evidentemente, paga por isso. “Os clientes da locação demandam cada vez mais máquinas com tecnologia incorporada, além de facilidade de manutenção, intercambiabilidade de peças, economia de combustível, rastreamento e conforto”, afirma Miranda.

Com a crescente melhoria da qualidade das máquinas, diz ele, o próximo passo é a pulverização da tecnologia de gestão para as empresas menores. “Isso exige uma maior ‘democratização’ do mercado de engenharia, premiando não só o poder econômico, mas também a competência das empresas com uma gestão adequada da obra”, delineia.

Para Miranda, é justamente nesse ponto que está o maior desafio – e oportunidade – para o segmento. Em um mercado com mais 20 mil empresas, algumas sequer contam com software de gestão para controle da frota, enquanto outras dependem unicamente do contato direto com os clientes, revelando uma disparidade que permite que a tecnologia possa avançar ainda mais no setor, em um movimento natural das empresas maiores para as menores. “A tecnologia é sempre muito bem-vinda, porque obriga a um salto de qualidade na gestão das empresas e também a qualificar os operadores e colaboradores”, ele avalia, reconhecendo que isso passa por uma questão de mercado. “Para muitos, se torna incompatível investir em tecnologias e não conseguir colocar o produto a um preço justo no mercado”, arremata.

Investimento em infraestrutura pode evitar novo desastre sanitário

Especialistas debatem inovação em webinar da Smart.Con

Passados mais de três meses, os desdobramentos da pandemia na construção permanecem uma incógnita mesmo para os especialistas do setor. “O mundo mudou, mas ainda não sabemos para onde vai”, diz Francisco de Souza Neto, gerente de gestão de equipamentos da Queiroz Galvão. “Contudo, sabemos que a tecnologia não se perpetua sem pessoal qualificado e motivado, sem ser economicamente viável, com um maior diálogo entre o fabricante e o usuário para superar o paradoxo entre a dificuldade econômica e a necessidade de se investir em tecnologia.”
Mas para que os prognósticos de avanço se concretizem, também é necessário que haja investimentos em infraestrutura, reconhecidamente o principal motor de mão de obra e de crescimento econômico no país. “As obras de infraestrutura devem ganhar uma importância maior, principalmente em saneamento básico, controle de resíduos e aterros sanitários, tudo para evitar um desastre no futuro”, prevê Neto, que em maio participou de webinar promovido pela Messe München Brasil em parceria com a Sobratema.

Saiba mais:
Smart.Con: www.exposmartcon.com.br

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