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Poder de superação

Em um cenário em que as oscilações são a única certeza, o engenheiro precisa aprender a conviver com elas, absorvendo novas e mais amplas habilidades profissionais

17/01/2019 13h18 | Atualizada em 31/01/2019 11h01


Em 5 de outubro de 1988, entrou em vigor a nova Constituição Brasileira, a chamada “Constituição Cidadã”, concluindo um longo período de transição política do país. A comemoração de 30 anos dessa data coincide com o ano de fundação da Sobratema, criada quase um mês antes da promulgação da atual Carta Magna nacional.

Voltando no tempo, é possível imaginar a ansiedade e a energia dos pioneiros da Sobratema ao constatarem que – como agora – o país passava por um amplo processo de transformações, abrindo um novo ciclo de modernização que deveria ocorrer em todos os campos, sobretudo nas áreas de Engenharia e Tecnologia, à época entre os setores mais atrasados do país.

Hoje, 30 anos depois, os engenheiros brasileiros novamente se encontram diante de um momento histórico de mudanças. O Brasil enfrenta uma das crises político-econômicas mais graves de sua história, arrastando consigo grande parte do acervo técnico da engenharia nacional. Em tal cenário, é preciso agir para – como nos idos de 1988 – reunir outra vez um setor duramente atingido, ajudando a inserir o Brasil em um novo contexto tecnológico mundial, muito mais competitivo e também implacável com os retardatários. Mas q

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Em 5 de outubro de 1988, entrou em vigor a nova Constituição Brasileira, a chamada “Constituição Cidadã”, concluindo um longo período de transição política do país. A comemoração de 30 anos dessa data coincide com o ano de fundação da Sobratema, criada quase um mês antes da promulgação da atual Carta Magna nacional.

Voltando no tempo, é possível imaginar a ansiedade e a energia dos pioneiros da Sobratema ao constatarem que – como agora – o país passava por um amplo processo de transformações, abrindo um novo ciclo de modernização que deveria ocorrer em todos os campos, sobretudo nas áreas de Engenharia e Tecnologia, à época entre os setores mais atrasados do país.

Hoje, 30 anos depois, os engenheiros brasileiros novamente se encontram diante de um momento histórico de mudanças. O Brasil enfrenta uma das crises político-econômicas mais graves de sua história, arrastando consigo grande parte do acervo técnico da engenharia nacional. Em tal cenário, é preciso agir para – como nos idos de 1988 – reunir outra vez um setor duramente atingido, ajudando a inserir o Brasil em um novo contexto tecnológico mundial, muito mais competitivo e também implacável com os retardatários. Mas qual é o papel da engenharia e do engenheiro nesse processo?

Eduardo Lafraia: novo perfil requer ampliação do conhecimento

Para responder a esta questão, a Revista M&T ouviu a opinião de acadêmicos e especialistas do mercado, ajudando a traçar uma linha de raciocínio que ajude os profissionais a se orientar nesse momento de singularidade.

De saída, o que se pode constatar é que, apesar da impressão de “terra arrasada”, há um caminho promissor a se percorrer, aberto por profissionais que suaram a camisa para trazer o país até aqui. Mas os desafios são consideráveis. Em termos tecnológicos, a realidade profissional agora converge para a era digital, que modifica todo o modelo de ensino e de produção da área. Com isso, a própria profissão de engenheiro mudou, afetando os modelos tradicionais de empregabilidade e desempenho. Com isso, o mercado passou a exigir profissionais com habilidades mais amplas – incluindo domínio da tecnologia, poliglotismo, versatilidade multitarefas, convívio social e empreendedorismo, dentre outras – para lidar com um mundo em constante e rápido movimento.

Mas se há uma área capaz de responder a altura a tais desafios, essa é a engenharia. A sua própria designação mostra isso, pois deriva do termo latino “ingenium”, que significa “faculdade inventiva”, “criatividade”, “talento para inovar”. Ou seja, a habilidade de se buscar soluções práticas para os problemas reais, inventando ou recriando continuamente as ferramentas, máquinas e equipamentos que dão apoio na execução de suas tarefas e, assim, remodelam o mundo. Ou seja, sempre que há um desafio de proporções hercúleas, é a engenharia que oferece o caminho para enfrentá-lo.

EDUCAÇÃO

Isso nos devolve ao nosso (difícil) contexto. “O momento atual do Brasil clama por engenheiros-cidadãos”, crava Eduardo Lafraia, engenheiro formado pela Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e atual presidente do Instituto de Engenharia (IE).

Segundo ele, o novo perfil do profissional requer o domínio de várias áreas do conhecimento, como tecnologias digitais, línguas, habilidade social e, sobretudo, uma visão holística – mas também pragmática – da vida e do país. “Esse novo profissional precisa compreender as demandas gerais da sociedade, trabalhar em equipe, utilizar o BIM (Building Information Model) e atuar com colaboradores que estão a quilômetros de distância”, diz ele. “O engenheiro continua a ser o profissional mais apto a entender a dimensão e a diversidade do Brasil, que vai além das questões políticas e econômicas.”

Nesse ponto, o especialista se refere a conhecimentos sobre áreas fundamentais para o desenvolvimento, como logística, infraestrutura, energia e educação, para ele o maior gargalo do país. “O IE tem feito um grande esforço na formação dos profissionais de engenharia”, acresce. “Afinal, o país não tem como superar a barreira da inovação tecnológica sem melhorar o ensino básico.”

Isso porque, ressalta Lafraia, a falta de investimento em educação básica se reflete lá na frente, na formação dos profissionais que vão para o mercado de trabalho, resultando em dificuldade de inovação e desenvolvimento do país como um todo. “Temos visto estudantes chegarem à universidade sem dominar o português e a matemática”, lamenta. “Assim, melhorar a qualidade do ensino básico é uma tarefa que deve ser enfrentada como prioridade por todos nós e pelos próximos governantes. Sem isso, não há como o Brasil se inserir nessa nova era tecnológica.”

Inclusive, a própria tecnologia pode ser uma aliada importante nessa tarefa. “É verdade que estamos muito atrás dos países desenvolvidos”, comenta o engenheiro. “Mas ainda é possível conseguir isso, utilizando a tecnologia como foi feito na Coreia do Sul. Se eles conseguiram, nós também podemos chegar lá.”

PRIORIDADES

Liedi Bernucci: formação reflete oscilação econômica

Para tanto, o país precisa se mexer. Nos anos 90, a produtividade brasileira correspondia a 25% da norte-americana, em um cenário que perdura até hoje. Segundo estudo da consultoria internacional Conference Board, divulgado no final de 2017, no ano anterior cada trabalhador brasileiro produziu, em média, US$ 30.265, enquanto um americano, US$ 121.260.

Todavia, outros 76 países aparecem à frente do Brasil nesse ranking, que inclui 124 nações. E muitos deles não param de avançar. Em 1950, a produtividade da Coreia do Sul – para retomar o exemplo de Lafraia – correspondia a apenas 11% da produtividade dos EUA. Em 2016, esse índice chegou a 60%.

Nesse ponto, a baixa escolaridade é sempre apontada como o principal fator para esse imobilismo. Aprofundando a questão, a diretora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP), Liedi Legi Bariani Bernucci, ressalta como a crise econômica impacta na formação dos novos profissionais. “A engenharia reflete diretamente essa oscilação, talvez de forma até mais intensa, pois necessita de muitos recursos para atuar”, sublinha. “Mas o período turbulento deve sempre ser usado para uma revisão de diretrizes e prioridades, dando-se ênfase à inovação.”

Para a pesquisadora, que tem um pé na academia e outro no mercado, somente aqueles que buscarem saídas criativas sobreviverão às turbulências. “O mercado sempre muda, principalmente após as turbulências”, ela destaca, reiterando que em outros contextos o brasileiro já demonstrou sua grande capacidade de superar as dificuldades. “Mas essa criatividade poderia ser mais bem-empregada para gerar uma inovação de ‘valor’, explorando tecnologias mais avançadas”, destaca. “Para não perdermos competitividade cabem todos os tipos de talentos, incluindo empreendedorismo, trabalho em equipe e liderança. E, com certeza, precisamos preparar melhor a juventude para estas competências.”

COMPETITIVIDADE

Para Fernando Madani, coordenador do curso de Engenharia de Controle e Automação do Instituto Mauá de Tecnologia, a profissão e as atividades de engenharia foram afetadas de diversas formas pelo cenário de crise. “A instabilidade dificulta ações ou investimentos no longo prazo, em um efeito negativo para as ações de um profissional que deve trabalhar com metas e planejamento de ações futuras”, diz.

Madani e Cabral: cenário fragmentário é uma realidade e aponta para uma nova era

No caso de alguns segmentos, principalmente na área industrial, estas limitações de investimento levaram à deterioração do parque fabril, que passou a ser pouco eficiente e perdeu competitividade, diminuindo as vagas e, até mesmo, as condições de atrair e reter os melhores profissionais. Contudo, nem tudo é necessariamente ruim. “Essas dificuldades também colaboraram para a formação de profissionais mais criativos e capazes de desenvolver soluções inovadoras”, contrapõe.

Não obstante, Madani vê com preocupação o êxodo de profissionais. Segundo o professor, é crucial realizar os investimentos necessários à manutenção da competitividade do setor produtivo, tanto dos recursos materiais, quanto da formação dos recursos humanos, sendo que ao engenheiro cabe, cada vez mais, assumir seu papel na condução de ações mais eficientes neste caminho. “Nos tempos da era digital e de uma economia cada vez mais globalizada, perder a competitividade e a eficiência nos processos é fatal, um meio-caminho para dizimar empregos e empresas”, adverte.

 

Automação, integração de dados, conectividade e gestão de informação são os novos drivers

Para o professor Antonio Cabral, coordenador do curso de Engenharia de Produção do mesmo Instituto Mauá de Tecnologia, o cenário fragmentário é uma realidade e aponta para uma nova era. Para ilustrar, ele fica a obra “A Quarta Revolução Industrial” (2016), do fundador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, em que o autor deixa claro que “estamos no início de uma revolução que alterará a maneira como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos”. “Na verdade, os ‘altos e baixos’ são a única certeza atual, sendo que o engenheiro do futuro precisa aprender a conviver com ela”, ressalta.

Segundo Cabral, mesmo diante dessas discrepâncias, a engenharia nacional sempre demonstrou poder de superação. “A engenharia brasileira é forte e dinâmica, veja os avanços na aeronáutica (com a Embraer), na agricultura de precisão e na genética de plantas (Embrapa) e no agronegócio (iniciativa privada)”, ele cita. “São exemplos espetaculares em que se pode ver claramente aplicado o conceito de foco e limite. Mas é essencial interpretar esses dados e identificar as oportunidades de adicionar valor às suas carreiras e negócios.”

A seu ver, o país menosprezou seu potencial no universo tecnológico. “Existem países em que essa utilização de tecnologia cresce em progressão geométrica”, afirma. “Aqui, ainda estamos na fase da progressão aritmética, ocupando a 60ª posição no ranking mundial de competitividade da IMD entre 63 países e a 80ª entre 137 nações no ranking do Fórum Econômico Mundial. Se não investirmos, estaremos sempre nessas posições intermediárias.”

EFICIÊNCIA

Retomando a palavra, Madani considera que, mesmo diante dessa defasagem, o país tem muito a comemorar. “Ao longo destes anos, muitos avanços foram alcançados nas áreas de construção, mineração, petróleo, materiais, energias alternativas e agroindústria a partir do desenvolvimento e aplicação de tecnologias próprias e inovadoras”, exemplifica. “Mais recentemente, também nas indústrias podem ser observadas muitas ações em direção à chamada Indústria 4.0, que ainda tem muito a evoluir e, principalmente, ser disseminada nos diversos setores.”

O acadêmico reitera que só é possível ser competitivo em nível global melhorando a eficiência na gestão e nos processos, o que atualmente passa obrigatoriamente pelo uso de automação, integração de dados, conectividade e gestão de informação. “O país pode avançar muito mais se priorizar o planejamento, logística, rastreabilidade e qualidade da gestão industrial por meio de recursos integrados, além de promover melhorias no parque industrial de máquinas e usar inteligência artificial no apoio a processos, entre outras ações”, diz. “Tudo isso focado principalmente nas pequenas e médias empresas, nas quais atualmente há um verdadeiro abismo em relação às multinacionais. Pequenos avanços nesse sentido já produziriam um enorme avanço.”

Nesse aspecto, Lafraia destaca que os centros de desenvolvimento do país ainda atuam de modo muito fechado. O único setor que conseguiu tal façanha foi o agronegócio. “O conhecimento produzido pela engenharia tem de ser compartilhado com a população”, argumenta. “É preciso que esta agenda – melhoria da educação básica e desenvolvimento tecnológico – seja a de todos os brasileiros.”

Saiba mais:

Instituto de Engenharia: www.institutodeengenharia.org.br

Instituto Mauá de Tecnologia: www.maua.br

Poli/USP: www.poli.usp.br

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