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Revista GC - Ed.65 - Nov/Dez 2015
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Entrevista

Desenvolvimento sustentável aponta para o conceito de cidades compactas e policêntricas

Dois conceitos começam a ter importância para as cidades brasileiras, que são a ideia de cidade compacta e policêntrica, e a de se adotar um planejamento de longo prazo, que reflita uma visão de futuro, elaborado de forma compartilhada com a sociedade

O que é uma cidade sustentável? Para o engenheiro Miguel Luiz Bucalem, ex-presidente da São Paulo Urbanismo, é aquela que permite uma proximidade entre moradias e oportunidades de trabalho, educação e lazer. Este é, por sinal, um dos maiores desafios das metrópoles brasileiras, sobretudo de São Paulo.

Para Bucalem, que coordenou mais de duas dezenas de projetos na capital Paulista, a tendência aponta para o conceito de cidades compactas e policêntricas, que buscam maior adensamento das áreas servidas por sistemas de transporte.  Ele destaca que a sociedade civil quer e precisa participar dessas decisões e aponta que é fundamental criar mecanismos de planejamento de longo prazo, imunes ao sabor das trocas de gestões. Acredita que apesar de alguns percalços, São Paulo está no caminho certo. A seu ver, o novo Plano Diretor da cidade adota vários conceitos apresentados no SP2040 Plano Estratégico de Longo Prazo para São Paulo.  Ph. D. pelo Massachusetts Institute of Technology – MIT, Bucalem afirma que a população tem pressa e quer velocidade nas mudanças.

Revista Grandes Construções - O senhor trabalhou no desenvolvimento de planos de urbanização em São Paulo e outras cidades. O conceito de sustentabilidade está consolidado no Brasil para projetos urbanísticos de grande alcance?

Miguel Luiz Bucalem - O conceito de sustentabilidade é bastante amplo e pode ser aplicado às cidades em várias escalas. Uma delas é a escala da edificação, por meio de habitações mais eficientes; do ponto de vista da energia; do consumo d´agua, da sua retenção para colaborar para a drenagem da cidade, entre outras formas. Por outro ponto de vista, a questão fundamental é como harmonizar o desenvolvimento com o meio ambiente. Ser eficiente para uma cidade é consumir menos energia, gerar menos poluição, menos gases do efeito estufa. Tudo isso faz parte do conceito da qualidade de vida de uma cidade. Mas a forma urbana, a localização e dis


Dois conceitos começam a ter importância para as cidades brasileiras, que são a ideia de cidade compacta e policêntrica, e a de se adotar um planejamento de longo prazo, que reflita uma visão de futuro, elaborado de forma compartilhada com a sociedade

O que é uma cidade sustentável? Para o engenheiro Miguel Luiz Bucalem, ex-presidente da São Paulo Urbanismo, é aquela que permite uma proximidade entre moradias e oportunidades de trabalho, educação e lazer. Este é, por sinal, um dos maiores desafios das metrópoles brasileiras, sobretudo de São Paulo.

Para Bucalem, que coordenou mais de duas dezenas de projetos na capital Paulista, a tendência aponta para o conceito de cidades compactas e policêntricas, que buscam maior adensamento das áreas servidas por sistemas de transporte.  Ele destaca que a sociedade civil quer e precisa participar dessas decisões e aponta que é fundamental criar mecanismos de planejamento de longo prazo, imunes ao sabor das trocas de gestões. Acredita que apesar de alguns percalços, São Paulo está no caminho certo. A seu ver, o novo Plano Diretor da cidade adota vários conceitos apresentados no SP2040 Plano Estratégico de Longo Prazo para São Paulo.  Ph. D. pelo Massachusetts Institute of Technology – MIT, Bucalem afirma que a população tem pressa e quer velocidade nas mudanças.

Revista Grandes Construções - O senhor trabalhou no desenvolvimento de planos de urbanização em São Paulo e outras cidades. O conceito de sustentabilidade está consolidado no Brasil para projetos urbanísticos de grande alcance?

Miguel Luiz Bucalem - O conceito de sustentabilidade é bastante amplo e pode ser aplicado às cidades em várias escalas. Uma delas é a escala da edificação, por meio de habitações mais eficientes; do ponto de vista da energia; do consumo d´agua, da sua retenção para colaborar para a drenagem da cidade, entre outras formas. Por outro ponto de vista, a questão fundamental é como harmonizar o desenvolvimento com o meio ambiente. Ser eficiente para uma cidade é consumir menos energia, gerar menos poluição, menos gases do efeito estufa. Tudo isso faz parte do conceito da qualidade de vida de uma cidade. Mas a forma urbana, a localização e distância entre os locais de moradias e as oportunidades de trabalho e de educação, a meu ver, é que definem o perfil de sustentabilidade de uma cidade.

GC - É este o principal desafio de São Paulo, hoje?

Miguel Luiz Bucalem - Sim, mas de certa forma, isso está refletido em outras grandes cidades brasileiras, que tiveram um crescimento muito rápido, o que gerou muitos desequilíbrios. E um dos maiores desequilíbrios é que as pessoas vivem nas áreas mais periféricas, que têm poucos empregos. Essa é uma dinâmica perversa para as cidades. Essas regiões metropolitanas, apesar de terem 7% do território do País, abrigam a maior parte de sua população.

GC - Como alterar esse desenho?

Miguel Luiz Bucalem - Mudar a forma urbana de uma cidade é um grande desafio, pois muitas das áreas já estão consolidadas. É um processo de anos ou décadas. Mas há dois conceitos que começam a ter importância para as cidades brasileiras, que são a ideia de cidade compacta e policêntrica, e a de se adotar um planejamento de longo prazo, que reflita uma visão de futuro, elaborado de forma compartilhada com a sociedade. Para que uma visão de futuro seja sustentável é preciso que ela não esteja sujeita aos ciclos políticos e de gestão. Há problemas e desafios que, para serem superados, exigem várias décadas de ações e politicas públicas consistentes. Mas se a cada quatro anos, a cidade der uma guinada, mudar de direção, os projetos não saem do lugar.

Um elemento fundamental para se atingir a cidade compacta é permitir mais atividades onde há a disponibilidade de transporte. Para isso, é preciso planejar de forma integrada o crescimento do sistema do transporte junto com o planejamento da ocupação da cidade.

GC - Esse conceito já é adotado por grandes cidades pelo mundo, com melhor qualidade de vida.

Miguel Luiz Bucalem - Cidades asiáticas, como Tóquio e Hong Kong estão totalmente baseadas em torno do transporte público.  Nos Estados Unidos, ao contrário, elas estão espalhadas e são dependentes do carro. Este é o modelo que a gente não quer para as cidades brasileiras. Lá existem exemplos bons como Nova Iorque e São Francisco, mas a maioria das cidades norte-americanas se expandiram muito e as pessoas se deslocam demais para chegar ao trabalho. Eu acho que as cidades brasileiras, estão procurando trilhar um caminho mais ligado às cidades compactas, com vários centros de emprego (policêntrica).

GC - São Paulo é um exemplo do dilema trabalho x moradia?

Miguel Luiz Bucalem - São Paulo claramente tem esse desiquilíbrio. As pessoas moram nas áreas mais distantes e o emprego está concentrado na área do centro expandido.  Além disso, grande parte dos deslocamentos é feita por meio de transporte individual. Então, o grande desafio é expandir a rede de transportes oferecendo sistemas de alta e média capacidade. De certa forma, isso está planejado. Mas é fundamental redesenvolver as áreas centrais da cidade criando oportunidade para as várias faixas de renda e aproveitando melhor seu potencial de emprego e educação, reduzindo justamente essa necessidade de deslocamento.

Esse caminho está sendo trilhado, mas talvez a gente gostaria de ter mais velocidade nesse processo. Nesse sentido, eu gostaria de destacar o projeto SP 2040, um plano que foi desenvolvido durante a gestão passada, elaborado como um plano de Estado, que procura mobilizar a sociedade civil e dar uma contribuição de longo prazo para a cidade.

GC - Quais são os pontos principais desse plano?

Miguel Luiz Bucalem - Muitos dos instrumentos do plano diretor de São Paulo estão alinhados com esse plano. Por exemplo, permitir o adensamento no entorno do sistema de transporte. Assim como ocupar as áreas centrais de forma mais eficiente, atraindo a população de várias faixas de renda, além de permitir o uso misto das edificações, criando uma dinâmica nova de deslocamentos voltada para incentivar os deslocamentos por transporte público e a pé.  Uma das operações urbanas pensadas, à época, se transformou em lei e outra está encaminhada também para se tornar lei.

GC - Quais são essas operações urbanas?

Miguel Luiz Bucalem - A operação urbana Água Branca estabelece alguns eixos estruturadores incentivando que nos pavimentos térreos se tenha comércio, calçadas generosas e busca o adensamento populacional, e não só o construtivo.  Cria condições para que o tamanho das unidades não seja muito grande para realmente atrair mais gente para lá. E tem toda uma estratégia ligada à qualidade do espaço público, com áreas verdes que possibilitem o adensamento, mas preservando a qualidade urbana. A outra operação urbana, que se chamava Mooca - Vila Carioca, agora bairros do Tamanduateí, está no eixo ferroviário entre a Mooca e o Ipiranga. Esta era uma região industrial que requer uma transformação planejada.

GC - Como o transporte faz parte desse enredo?

Miguel Luiz Bucalem - Hoje você quer usar bem a estrutura de transporte que existe, mas precisa expandir o sistema, pois ele não é compatível com as demandas de São Paulo. Estas demandas só crescem.  E então isso é um processo.  São questões que devem andar juntas: como induzir uma nova forma de ocupação na cidade articulada à rede de transporte e a sua expansão. Este conceito está nos instrumentos de planejamento atuais. A outra questão é ter a expansão vigorosa do sistema de transporte tanto de alta como de media capacidade. Também está sendo feito, mas toda cidade gostaria que isso ocorresse com maior velocidade.

GC - Nesse sentido, gostaria de mencionar a Operação da Nova Faria Lima, que parece estar na contramão desse sistema, uma área que foi readequada mas parece não estar integrada ao espaço público.

Miguel Luiz Bucalem - A operação urbana  Faria Lima propiciou a instalação de empresas ligadas  à nova economia do conhecimento, principalmente das áreas de tecnologia e financeira. Mas a região poderia se beneficiar mais do transporte público, o que agora está ocorrendo  com a Linha 4 do Metro. Há ainda outra linha planejada para passar por lá futuramente.  Houve ainda a criação de novos espaços públicos na região de Largo da Batata e recursos da operação permitiram a urbanização de favelas como da do Real Parque.  Há ainda a possibilidade de levar   mais pessoas para morar na região, principalmente no setor Pinheiros.

A operação urbana Água Espraiada, de certa forma complementa o distrito de negócios da Av. Faria Lima, estendendo-se ao longo das avenidas Luis Carlos Berrine e Chucri Zaidan. Esta operação também aplicou recursos no transporte público por meio da  linha de monotrilho.

GC - Então houve um avanço em relação à primeira operação.

Miguel Luiz Bucalem - A operação urbana Água Espraiada pode ser entendida como uma segunda geração das operações urbanas. Urbanizou vários assentamentos precários ao longo da avenida Água Espraiada, criou novas áreas verdes e investiu em trasnporte público, entre outras intervenções.,.  A terceira geração é representada pela da Operação Água Branca, onde se desenha uma nova forma de ocupação da cidade. Ela deverá induzir uma transformação planejada para aaquela região, estimulando uma ocupação com  uso misto, diversidade de renda, qualidade dos espaços públicos segundo os conceitos de cidade compacta..

GC - Quais são as diretrizes necessárias para que a operação urbana aconteça?

Miguel Luiz Bucalem - É preciso criar os incentivos, no âmbito do planejamento urbano, e  estabelecer os  direcionamentos por meio da regulação para que as transformações ocorram. Caso a operação esteja bem regrada e com um planejamento consistente, a promoção do desenvolvimento imobiliário ocorre para melhorar a cidade transformando projetos de interesse público em realidade. Neste sentido, pode-se dizer que São Paulo do ponto de vista da regulação e de planejamento está na direção certa.

GC - Como o senhor avalia a resistência na cidade de São Paulo quando se fala em ciclovia e redução da velocidade do trânsito.

Miguel Luiz Bucalem - Certamente o incentivo à bicicleta é uma boa prática. Temos de reconhecer que São Paulo é uma cidade complicada e os espaços são disputados pelo transporte individual e coletivo.  A criação de uma rede de ciclovias  precisa ser feita com cuidado, com integração dosvários sistemas de transporte.. Por exemplo, pode-se fazer trajetos curtos de bicicleta com integração nas estações de metrô ou de ônibus..  Implantar uma rede de ciclovias  é um processo. A direção está correta edeve ser concretizada com muito planejamento e privilegiando o deslocamento seguro para quem anda de bicicleta.

 

 

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