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Revista GC - Ed.54 - Novembro 2014
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Matéria de Capa - Especial Odebrecht

Norberto Odebrecht: de aprendiz a mestre de operários e empresários

Com pouco mais de 20 anos, Norberto Odebrecht assume os negócios do pai e aplica novos conceitos de gestão, lançando as bases do que seria um dos maiores grupos empresariais do país

Ao comemorarmos os 70 anos do Grupo Odebrecht, uma das maiores e mais importantes organizações empresariais do Brasil, com forte atuação no exterior, é fundamental conhecermos os fundamentos filosóficos que nortearam o seu fundador nesta trajetória de sucesso. Em entrevista concedida ao Núcleo da Cultura Odebrecht, em 2004, Norberto Odebrecht atribuiu o êxito na fundação e crescimento da empresa, aos princípios éticos herdados de seus pais e avôs. De formação luterana, Doutor Norberto – como era chamado carinhosamente pelos seus colaboradores – contou que, ainda muito jovem, ouviu do pastor Otto Arnold, seu preceptor, o ensinamento sobre a riqueza efêmera: “Não existe riqueza sem saúde, ética, trabalho e produtividade”.  A riqueza material se tornaria insalubre se não fosse apoiada em firme conduta ética. Do seu pai, Emil Odebrecht, herdou valores como a paciência, a decisão firme e segura, a solidariedade com os companheiros e a família e o cuidado com os instrumentos de trabalho.

Desde os 15 anos, quando a família se mudou de Recife (PE) para a Ladeira dos Aflitos, em Salvador (BA), Norberto, depois da escola, convivia com os mestres-de-obras das oficinas do pai para aprender todos os ofícios:  pedreiro, serralheiro, armador, chefe de almoxarifado, responsável pelo transporte. Mas ao entrar para a Escola Politécnica de Salvador, não imaginaria que somente três anos depois já seria chamado a assumir a condução dos negócios do seu pai, que passava por dificuldades financeiras. “Eu pensei ter herdado uma dívida, mas na verdade, o que eu herdei foram os seus mestres-de- -obras, homens treinados por meu pai em sua escola de canteiros, nas mais diversas funções”, lembraria Norberto mais tarde.

Do desafio de recuperar a empresa familiar surgiu o jovem empresário com grande habilidade para a negociação e para contornar crises. A solução para sanear as dívidas veio através de três pactos, como explicaria diversas vezes. O primeiro foi o pacto político, estabelecido com o Banco da Bahia, seu principal credor, que se transformou em aliado na conquista de novos clientes. O segundo foi estabelecer um pacto econômico junto aos clientes, no sentido de oferecer menores prazos, menores custos e qualidade. E, por fim, um pacto social com os col


Ao comemorarmos os 70 anos do Grupo Odebrecht, uma das maiores e mais importantes organizações empresariais do Brasil, com forte atuação no exterior, é fundamental conhecermos os fundamentos filosóficos que nortearam o seu fundador nesta trajetória de sucesso. Em entrevista concedida ao Núcleo da Cultura Odebrecht, em 2004, Norberto Odebrecht atribuiu o êxito na fundação e crescimento da empresa, aos princípios éticos herdados de seus pais e avôs. De formação luterana, Doutor Norberto – como era chamado carinhosamente pelos seus colaboradores – contou que, ainda muito jovem, ouviu do pastor Otto Arnold, seu preceptor, o ensinamento sobre a riqueza efêmera: “Não existe riqueza sem saúde, ética, trabalho e produtividade”.  A riqueza material se tornaria insalubre se não fosse apoiada em firme conduta ética. Do seu pai, Emil Odebrecht, herdou valores como a paciência, a decisão firme e segura, a solidariedade com os companheiros e a família e o cuidado com os instrumentos de trabalho.

Desde os 15 anos, quando a família se mudou de Recife (PE) para a Ladeira dos Aflitos, em Salvador (BA), Norberto, depois da escola, convivia com os mestres-de-obras das oficinas do pai para aprender todos os ofícios:  pedreiro, serralheiro, armador, chefe de almoxarifado, responsável pelo transporte. Mas ao entrar para a Escola Politécnica de Salvador, não imaginaria que somente três anos depois já seria chamado a assumir a condução dos negócios do seu pai, que passava por dificuldades financeiras. “Eu pensei ter herdado uma dívida, mas na verdade, o que eu herdei foram os seus mestres-de- -obras, homens treinados por meu pai em sua escola de canteiros, nas mais diversas funções”, lembraria Norberto mais tarde.

Do desafio de recuperar a empresa familiar surgiu o jovem empresário com grande habilidade para a negociação e para contornar crises. A solução para sanear as dívidas veio através de três pactos, como explicaria diversas vezes. O primeiro foi o pacto político, estabelecido com o Banco da Bahia, seu principal credor, que se transformou em aliado na conquista de novos clientes. O segundo foi estabelecer um pacto econômico junto aos clientes, no sentido de oferecer menores prazos, menores custos e qualidade. E, por fim, um pacto social com os colaboradores que herdara do pai. Da teoria à prática, foram implementadas as ideias da descentralização, da delegação planejada, da parceria e da partilha de resultados.

Norberto se incumbia do relacionamento com os clientes, fornecedores e banqueiros, com o objetivo de conquistar obras. Cada mestre tornou-se responsável por uma obra (cliente), com toda a liberdade, e compartilharia também os resultados. Assim, em 1948, todas as dívidas estavam pagas.

Em 1944, Norberto Odebrecht abriu sua firma individual. A abertura da nova empresa era uma exigência para a continuidade dos negócios, tanto por parte do Banco da Bahia, quanto pelas dificuldades de reestruturação da Emílio Odebrecht & Cia.

Assim Norberto começou a agir plenamente como empresário, atuando em obras como o Fórum Rui Barbosa, o Hotel da Bahia e muitos outros. Logo vieram as obras que fortaleceram a credibilidade da construtora, que no fim da década de 40 já era uma das mais importantes da Bahia: o Círculo Operário (1946), com cinco mil m2 com lojas, restaurantes e cinema, o Estaleiro Fluvial da Ilha do Fogo (1947), entre as cidades de Juazeiro e Petrolina, no Rio São Francisco, com capacidade para navios de até 1.200 t, o cais e ponte de atracação em Canavieiras (1948). E quatro outros portos, um deles em Ituberá (1949).

Visionário, Norberto atraiu investidores da geração de energia e manejo florestal, numa região até então isolada, em Ituberá, no Baixo Sul da Bahia, rica em recursos naturais, junto à cachoeira de Pancada Grande, com 63 m de altura, no Rio Serinhaém. Eram as empresas Firestone (que plantaria seringueiras para fazer seus pneus) e Matarazzo (que plantaria dendezeiros para fazer óleo).

Surgia, assim, a S.A. Ituberá Comércio e Indústria – Saici, empresa criada por Norberto. Lá o empresário instalou, em pouco tempo, uma hidrelétrica, uma serraria e uma autoclave para transformar a madeira extraída, de baixa qualidade, em folhas de compensado imunizadas, de difícil combustão, a preço competitivo.

Foi construída uma vila residencial, abriu-se um pequeno aeroporto e negociou-se com a TAS – Transportes Aéreos Salvador o pouso diário de dois monomotores. Instalou-se uma fábrica de compensados de envergadura e foram importados enormes caminhões para trazer madeiras nobres de pontos distantes cerca de 250 km dali.

O transporte revelou-se antieconômico. Abriu-se mais uma atividade, a de laminados, com uma moderna máquina importada da Alemanha, mas a empresa foi fechada em 1954 devido ao seu resultado financeiro. “À medida que os negócios da Saici multiplicavam-se com crescente rapidez”, escreveu ele mais tarde, “mais rápido ainda aumentava a minha ignorância acerca deles, impedindo-me, na prática, de liderar quem quer que fosse.” Segundo ele, “a lógica ensina que, se as premissas são erradas, o raciocínio pode ser impecável, mas as conclusões serão necessariamente erradas”.

A desativação da Saici gerou uma das maiores crises da história da Odebrecht, mas deixou o germe da diversificação como lição para o futuro. Os contratos de obras, no entanto, se multiplicaram. As instalações hidrelétricas da Companhia Valença Industrial, os viadutos da Avenida Centenário, o edifício do Ministério da Fazenda e a estação de passageiros do aeroporto de Salvador, terminada em menos de um ano, são algumas das obras significativas realizadas pela construtora neste período.

Para dar conta dos inúmeros contratos, Norberto não hesitou em deixar sob a responsabilidade dos próprios mestres-de-obras tarefas como pedidos, compras e admissão de pessoal, em geral entregues aos escritórios centrais das construtoras. Era uma forma de motivar as pessoas e estimular sua criatividade. A delegação plena e a descentralização das decisões era o que permitia à empresa tocar um número muito maior de obras que a concorrência.

A autonomia do encarregado, a partilha de responsabilidades e dos resultados, se tornariam alguns dos valores consolidados pela Tecnologia Empresarial Odebrecht (TEO), adotada pelo grupo ao longo dos 70 anos de existência. Através da TEO, Norberto Odebrecht deixou um amplo legado, que tem como referência seu exemplo pessoal, da empresa que fundou, e de seus livros, através dos quais difundiu seus pensamentos. Falecido neste ano, em 9 de julho, sua mensagem permanece viva e atual, não somente para o Grupo Odebrecht, como para o mundo empresarial e para o Brasil.

 

 

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