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Revista GC - Ed.5 - Junho 2010
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Personalidade da construção

Oscar Niemeyer, o poeta do concreto

Na trajetória do arquiteto e do cidadão, a história do Brasil

Impossível falar e entender a arquitetura de Oscar Niemeyer, considerado um dos grandes gênios vivos do século XX, sem olhar para sua trajetória e ver nela o aspecto político e mágico como um dos fachos de fogo que acendem a alma desse artista. A sua ascensão profissional culminou com uma incrível trajetória política, secundária, mas não menos relevante – ele foi o braço direito de Juscelino Kubitschek na construção da nova capital, Brasília.

Seus projetos de edifícios públicos tornaram-se ícones da arquitetura moderna brasileira e projetaram uma nova imagem do País dentro e fora dele. Mas tão importante quanto sua obra particular foi sua atuação para a concretização daquele projeto político, que abriu caminho para grandes transformações que viriam a ocorrer no País nos 50 anos seguintes.

No campo tecnológico, o esforço para a execução de Brasília estimulou o desenvolvimento da engenharia nacional e, por consequência, de toda uma gama de empresas e serviços relativos à construção civil, introduzindo conceitos de industrialização e racionalização, além de aperfeiçoamento da técnica do concreto. Esse know-how seria fundamental na expansão da infraestrutura do País, que viria em seguida, tocada pelos governos militares, no chamado momento do Milagre Econômico.

Destaca-se que, apesar da falta de planejamento, Brasília foi o tubo de ensaio de treinamento e pré-qualificação de uma massa de mão de obra, em quantidade impensável na época – 30 mil trabalhadores – diga-se de passagem, analfabeta. Várias construtoras e empresas surgiriam após sua construção, instigadas por muitos dos que lá trabalharam.

A construção da cidade no centro-oeste brasileiro foi o ponto de partida para o surgimento concomitante de rodovias transregionais conectando diversos pontos do País, antes sem qualquer ligação. Com isso, acentua-se nesse período, e daí para frente, a migração de populações para as grandes metrópoles, como Rio de Janeiro e São Paulo, aproveitando o recente surto de industrialização que se dava a partir daquele momento.

Nas décadas seguintes, o caráter desenvolvimentista de Brasília teria ainda mais reforço, com a diversificação de obras em todo o território, como a Ponte Rio-Niterói, a construção


Impossível falar e entender a arquitetura de Oscar Niemeyer, considerado um dos grandes gênios vivos do século XX, sem olhar para sua trajetória e ver nela o aspecto político e mágico como um dos fachos de fogo que acendem a alma desse artista. A sua ascensão profissional culminou com uma incrível trajetória política, secundária, mas não menos relevante – ele foi o braço direito de Juscelino Kubitschek na construção da nova capital, Brasília.

Seus projetos de edifícios públicos tornaram-se ícones da arquitetura moderna brasileira e projetaram uma nova imagem do País dentro e fora dele. Mas tão importante quanto sua obra particular foi sua atuação para a concretização daquele projeto político, que abriu caminho para grandes transformações que viriam a ocorrer no País nos 50 anos seguintes.

No campo tecnológico, o esforço para a execução de Brasília estimulou o desenvolvimento da engenharia nacional e, por consequência, de toda uma gama de empresas e serviços relativos à construção civil, introduzindo conceitos de industrialização e racionalização, além de aperfeiçoamento da técnica do concreto. Esse know-how seria fundamental na expansão da infraestrutura do País, que viria em seguida, tocada pelos governos militares, no chamado momento do Milagre Econômico.

Destaca-se que, apesar da falta de planejamento, Brasília foi o tubo de ensaio de treinamento e pré-qualificação de uma massa de mão de obra, em quantidade impensável na época – 30 mil trabalhadores – diga-se de passagem, analfabeta. Várias construtoras e empresas surgiriam após sua construção, instigadas por muitos dos que lá trabalharam.

A construção da cidade no centro-oeste brasileiro foi o ponto de partida para o surgimento concomitante de rodovias transregionais conectando diversos pontos do País, antes sem qualquer ligação. Com isso, acentua-se nesse período, e daí para frente, a migração de populações para as grandes metrópoles, como Rio de Janeiro e São Paulo, aproveitando o recente surto de industrialização que se dava a partir daquele momento.

Nas décadas seguintes, o caráter desenvolvimentista de Brasília teria ainda mais reforço, com a diversificação de obras em todo o território, como a Ponte Rio-Niterói, a construção de diversas usinas hidrelétricas, portos e aeroportos.

A ruptura política posterior à sua construção, no entanto, afastaria Oscar Niemeyer e Lúcio Costa da cidade que criaram, deixando falhas ou questões do planejamento sem respostas. Por exemplo, como organizar e inserir as cidades-satélites, temporárias, ou que surgiram espontaneamente, junto aos domínios da cidade? Ou ainda, como reavaliar a visão rodoviarista da época, que privilegiou o automóvel?

Talvez o dilema de Brasília hoje esteja justamente na singularidade e na genialidade, que a tornou marco da arquitetura e urbanismo modernos, considerada Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – Unesco desde 1987.

Ela é quase imutável. Planejada sob o foco dos anos 1950, tem e terá dificuldades para adaptar-se às demandas tecnológicas e sociais futuras. Qualquer mudança em seu plano diretor é contrária ao status de monumento mundial alcançado pela cidade, justamente por seu planejamento que não pode ser mudado. Esta é a questão que se coloca no seu aniversário de 50 anos.

Mas o que está por trás das linhas perfeitas de Oscar Niemeyer, além do seu espírito genial, é a força coletiva que representou. Brasília sintetiza o anseio popular, de uma geração, por acesso ao progresso tecnológico. O Brasil de face agrária e empobrecida viu na obra, e em outras que se seguiriam, a oportunidade de emprego que até então inexistia. A mobilidade urbana, promovida pelas novas rodovias, foi uma porta de saída da miséria do campo. Já para as classes mais favorecidas, a consagração e reconhecimento internacional do design de Oscar Niemeyer representaram um sopro de auto-estima e de valorização do espírito criativo brasileiro, uma nova identidade no mundo.

Novos condicionantes políticos posteriores à construção de Brasília modificaram a história do País, e o destino dos seus mentores: Oscar Niemeyer foi embora para o exterior, JK perdeu os direitos políticos e seria quase impedido de ver sua principal obra.

Mas a nova capital era uma realidade que não podia mais ser desmontada. Apesar dos revezes, o engajamento de Oscar Niemeyer com projetos de fundo político e social não se reduziria. Ao voltar do exílio, na década de 1980, ele atua para consolidar a proposta educacional do educador Darci Ribeiro, no Rio de Janeiro. Idealiza os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), apelidados de Brizolões por terem sido concebidos durante a gestão de Leonel Brizola como governador do estado do Rio de Janeiro. Eles consistem em edificações de grande porte para ensino integral aos alunos da rede pública. É desenvolvido um modelo de produção das unidades em série, a partir de uma fábrica de pré-moldados, que servia de oficina e escola aos próprios alunos.

Mais uma vez, o arquiteto se envolve num debate político e social de grande repercussão. Considerada uma proposta ousada, e para muitos inexequível, a ideia do ensino integral num equipamento de qualidade, defendida por Darci Ribeiro, seria copiada pelo governo Collor de Melo, sendo catapultada pelo fim de seu governo. Quase 30 anos depois, a ideia voltou a ser reeditada na prefeitura de São Paulo, em três diferentes gestões, de Marta Suplicy, José Serra e Gilberto Kassab.

Foi na mesma época, e também ideia de Darci Ribeiro, que Oscar desenhou o Sambódromo do Rio, dizem, inspirado na anatomia feminina, que fora do Carnaval se desdobra ainda em escola pública. Também motivo de debates nacionais, o projeto é hoje um dos principais ícones turísticos do Rio de Janeiro, influenciando projetos semelhantes, sem o mesmo brilho, em São Paulo e no Pará. É ainda de Darci Ribeiro a concepção do Memorial da América Latina, em São Paulo, outro projeto que traduz alguns dos seus anseios políticos e culturais daquela fase em que o Brasil ensaiava novos passos na consolidação de sua democracia.

De 1990 a 2010, um ancião altamente produtivo, o arquiteto vê o País entrar em fase de estabilidade econômica, política e social. E conquista novo papel na vida pública brasileira: seus projetos têm o dom de pinçar cidades, quase anônimas, ao valioso roteiro arquitetônico chamado Oscar Niemeyer. É o que ocorre com o projeto do Museu de Arte Moderna (MAC) em Niterói (RJ), cujo projeto é acusado injustamente de ofuscar as próprias obras ali expostas por sua beleza.

Sem o manto das paixões políticas – apesar de orgulhar-se por nunca ter se indisposto com quem quer fosse por suas posições políticas – finalmente sobressai o valor do arquiteto e de sua arquitetura em projetos que marcam a paisagem urbana, transformam cidades e lhes conferem um novo valor arquitetônico. Cidade Administrativa, de Belo Horizonte (MG), Estação Ciência, Cultura e Artes de Cabo Branco, em João Pessoa (PB), Museu Oscar Niemeyer (Olho) em Curitiba (PR), são apenas alguns dos exemplos.

Sendo um dos últimos da geração de Brasília a ver a transformação atual do País, Oscar Niemeyer, apesar do pessimismo existencialista que o acompanha, está feliz com o Brasil, diz um dos seus fiéis escudeiros, José Carlos Sussekind: vê com otimismo os avanços sociais alcançados pelo governo de Luís Inácio Lula da Silva. O esforço daqueles dias, daqueles homens de poeira, pedra e cimento, assim lhe parece, valeu a pena.

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